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Foto do escritorAlberto Moby Ribeiro da Silva

MARROCOS: ÁRABE, ROMANO, EUROPEU, MAS, PRINCIPALMENTE, BERBERE

Atualizado: 14 de out. de 2022


Começo com uma confissão: antes de ir ao Marrocos eu sabia muito pouco (na verdade, quase nada) sobre esse país. Tinha informações esparsas sobre a região do Magreb (nome pelo qual também é designado o país) das aulas de História Antiga e Medieval com o Prof. Rogério Ribas, da minha licenciatura em História. No mais, meu "conhecimento" sobre o Marrocos nunca foi muito além de alguns lugares-comuns. Tipo é da cidade marroquina de Tânger que vem a tangerina. Que é no Marrocos que fica a cidade de Casablanca, do Rick’s Café, cenário de um dos filmes mais famosos da história do cinema. Ou que, segundo a canção “Qualquer coisa”, de Caetano Veloso, de 1975, Marrakech é longe pra caramba. Ou, ainda, que todos os amores acontecem na medina da mística, romântica e conservadora Fez, segundo a novela O Clone, da Globo, de 2001-2002. E que o Marrocos é um país árabe e muçulmano. Um monte de meias verdades produzidas pelo senso comum, pela falta de informação e pelo preconceito.

Mas, afinal, por que ir ao Marrocos? O que há para ver lá? Além disso, será que dez dias seriam suficientes pra acabar com os equívocos? Dá para conhecer um país – ainda mais um que é tão diferente do Brasil – em tão pouco tempo? Será que consigo responder tudo isso em uma postagem? Em uma, não, mas numa série, talvez. Vou tentar. Vamos lá?

Em primeiro lugar, minha motivação foi meio circunstancial. Tínhamos planejado visitar algumas cidades da região espanhola da Andaluzia, principalmente Granada e Sevilla (sobre as quais falo em outra oportunidade). A Andaluzia é a região da Península Ibérica que mais guarda resquícios do período de quase 800 anos de ocupação muçulmana, formando o grande domínio chamado, em árabe, de al-Andaluz. Dois magníficos exemplos, na arquitetura, desse período na região são o Real Alcázar, em Sevilha, e o complexo Alhambra-Generalife, em Granada.

Patio de las Doncellas, no Real Alcázar, em Sevilha

Sala de los Mocárabes, no Alhambra, em Granada


Como a história dessa ocupação começou com uma invasão comandada por Táriq ibn Ziyad, governador da cidade de Tânger, o historiador que mora dentro do turista que sou eu (ou será o contrário?) achou que havia um bom motivo para atravessar o Estreito de Gibraltar e se aventurar no Marrocos. Além do mais, é tão perto... são cerca de 180km de Sevilha até Algeciras, já no Estreito de Gibraltar, e, de lá, cerca de 60km de barco até o porto de Tanger Med, nossa porta de entrada no país. Nem foi difícil convencer minha companheira.

Terminal de passageiros de Tanger Med


Nosso único problema era o fato de não sabermos ler, escrever ou falar praticamente nenhuma palavra em árabe e não saber em que medida iríamos conseguir nos fazer entender em espanhol, francês ou inglês. Por essa razão, decidimos gastar um pouco mais de dinheiro e contratar os serviços de uma agência de turismo que oferecesse passeios com guia que dominasse uma dessas línguas ou, de preferência, o português. Acabamos recebendo a indicação da Siroco Tours, uma empresa portuguesa que tem um escritório no Brasil. Graças à Siroco fizemos um tour incrível pelo Marrocos, com veículo, guia falando português e motorista totalmente dedicados a nós durante todo o percurso. Não foi baratinho não, mas a relação custo/benefício foi, sem dúvida, extremamente favorável, já que a Siroco foi responsável também por contratar seis locais de hospedagem, todos com café da manhã e dois deles com jantar. É sobre essa experiência que vou contar aqui.

Como já indiquei acima, entramos no Marrocos pelo porto de Tanger Med, depois de uma travessia de barco vindos de Algeciras, na Baía de Gibraltar.

Antes, para quem não domina a geografia do lugar, uma breve (mas nada simples) explicação. O Estreito de Gibraltar, região estratégica com cerca de 17km de largura, separa a Europa e a África. Ao Norte, em território europeu, está a Espanha, cuja cidade mais meridional é Tarifa. Ao Sul, temos o Marrocos, com Tânger, na ponta ocidental do Estreito, e Ceuta, na ponta oriental. O problema é que nessa área com pouco mais de 32km de diâmetro temos um emaranhado de domínios territoriais que não é fácil de entender. Na parte relativa ao continente europeu, Algeciras e Tarifa são parte do reino da Espanha, enquanto a cidade de Gibraltar, com seu famoso penhasco, e as próprias águas do Estreito são território britânico. Já no continente africano, enquanto Tânger e o porto de Tanger Med, 50km na direção Nordeste, pertencem ao Marrocos, Ceuta, que já foi território português – sendo reconhecida como a primeira conquista a detonar o processo de expansão marítima portuguesa no século XVI –, hoje é território da Espanha. Confuso? Sem dúvida! Mas um excelente motivo para você voltar a estudar Geografia ou, pelo menos, se interessar por um dia conhecer essa região.


Voltando ao Marrocos, nosso primeiro impacto foi um grande susto. Tínhamos ganhado de presente de um amigo uma escultura em ferro de uma salamandra, de cerca de 22cm. Parece que esse inocente objeto foi confundido pelos funcionários da alfândega marroquina com um animal vivo. Com uma atitude bastante hostil, um deles, suponho que em árabe, dizia coisas que me pareciam agressivas, enquanto Márcia, nervosa e sem entender nada, me esperava do outro lado, já liberada pelos guardas. Ao mesmo tempo, as demais pessoas, impacientes, faziam pressão atrás de mim para que a situação fosse logo resolvida. Eu – obviamente, em pânico – tentava me comunicar em um francês macarrônico e apavorado com os guardas, na tentativa de entender o que exatamente eles queriam. Finalmente, um deles, em um inglês pior que o meu francês, conseguiu explicar que eu deveria abrir a mala, o que fiz imediatamente. Só depois de a pobre salamandra ter sido devidamente examinada e de eles terem constatado que eu não era nem contrabandista nem terrorista (ou seja lá o que tenham imaginado) é que eu fui liberado. O tour pelo Marrocos começava de forma bastante preocupante.

A etapa seguinte era encontrar Mohammed, nosso guia, segundo nos havia informado a diretora da Siroco. Na verdade, o guia que nos esperava se chamava Mustafa e nosso motorista, Ibrahim. Primeiro susto. Estava tudo certo? Podíamos confiar? Tínhamos conversado com Mohammed via WhatsApp por vários dias... Depois do susto na alfândega, mais esse sobressalto. Mas, como tenho sempre dito, viajar sem isso para mim é meio sem graça.

Felizmente, não havia nenhum equívoco nem cambalacho. Mustafa foi extremamente simpático, disposto a tirar todas as nossas dúvidas e a sanar nossas desconfianças. Além disso, falava um português bastante razoável – e com sotaque mais para o português brasileiro que o de Portugal –, segundo ele, aprendido única e exclusivamente através do constante contato com turistas do Brasil. Ibrahim não sabia nada de português, mas conseguia falar alguma coisa em espanhol e francês. Em uma conversa entre os dois que parecia claramente ser sobre nós, pedi que Mustafa nos traduzisse, já que nós não sabíamos nada em árabe para além dos clichês que havíamos ouvido na novela O Clone, como inshallah (se Deus quiser), hamdulillah (louvado seja Deus), yallah (vamos! corre!), salaam aleikum (que a paz esteja com você, equivalendo ao nosso bom dia! ou olá!) e shukram (obrigado). Nossa primeira surpresa: Mustafa disse, como quem querendo dar uma sacaneada em gente tão mal informada: “Não estamos falando em árabe. Nós falamos berbere (na verdade, a variante tamazight), e só usamos árabe de vez em quando”.

Foi aí que fiquei sabendo que o tamazight, um dos três dialetos berberes do Marrocos, é falado por cerca de 5 milhões de pessoas (cerca de 14% da população). Também que, junto com as outras duas variantes, cerca de 40% da população fala cotidianamente algum dialeto berbere. E, ainda, que o árabe falado ou pelo menos compreendido por cerca de 90% da população marroquina, é bastante diferente do árabe falado em outros países árabes ou arabizados. Chamada de dárija, essa variante do idioma é tão diferente que dificilmente seria entendida com clareza por um falante de árabe não-marroquino. Viu só quanta coisa eu aprendi apenas em alguns minutos de convívio com nosso guia e motorista?

Não houve tempo para conhecer Tânger, a 50km a sudoeste do porto de Tanger Med, nem Arzila, mais 46,5km ao sul de Tânger. As duas cidades estavam no roteiro contratado, mas os atrasos, naturais em grande parte das viagens, acabaram inviabilizando esse passeio – que na verdade seria um bate-e-volta, já que nosso destino final no primeiro dia seria Chefchaouen. Uma pena.

Arzila foi conquistada pelos portugueses em 1471, que construíram lá um forte, que foi ampliado e reforçado em 1509. Com a ocupação portuguesa, Arzila passou a ser um entreposto comercial e estratégico importante na rota do ouro vindo da região do Saara. Assim como Tânger, Arzila também recebeu famílias judias espanholas após 1490, enviadas para lá pela Coroa Portuguesa como colonizadoras.

O local foi abandonado pelas forças portuguesas em 1550, após a conquista de Fez, em 1549, e unificação do Marrocos sob o domínio de um só soberano, Abu-Abd-Allah Mahammad al-Mahdi al-Imam, também chamado Mohammed ech-Cheikh, o Amghar (“O Velho” em tamazight). Com essa conquista, os portugueses entenderam que não valia a pena resistir. O rei português da época, D. João III, decidiu manter apenas Ceuta e Tânger, que eram domínios portugueses mais bem estruturados.

Os portugueses ocuparam Arzila novamente de 1577 a 1589, na sequência do desembarque do famoso rei D. Sebastião, em sua tentativa de conquistar o Marrocos, que terminou na Batalha de Alcácer-Quivir, em 1578. Nessa batalha as forças portuguesas foram sumariamente derrotadas. Nessa batalha, além do aprisionamento ou morte de vários dos membros mais importantes da nobreza portuguesa, D. Sebastião desapareceu em combate Junto com o rei português, também morreram na batalha os dois sultões marroquinos rivais, fazendo com que esse trágico combate ficasse conhecido entre os marroquinos como a "Batalha dos Três Reis". Finalmente, em 1589 o rei Filipe I devolveu Arzila ao sultão Ahnmad al-Mansur.

Retomando nossa viagem, é importante registrar que apesar do conforto dos lugares em que nos hospedamos, da atenção e gentileza dos nossos guias e das belezas deslumbrantes que vimos no Marrocos, a viagem foi uma verdadeira “corrida maluca”. De todos os lugares por onde passamos, apenas em Fez e Marrakech foi realmente possível andar pelas ruas, sentir seus sabores e cheiros, ver coisas e pessoas, como gostamos tanto de fazer. Se você decidir ir ao Marrocos e, como nós, optar por um roteiro preparado e conduzido por uma agência turística, aconselho olhar com mais detalhe para a proposta de roteiro, observar quanto tempo está sendo proposto para cada visita, se possível, negociar com o agente alguma alteração. Ter dado quase que uma volta de 360° no país em apenas dez dias nos deixou com a sensação de que a ideia era mesmo que víssemos tudo muito rapidamente para ter vontade de voltar.


TETUAN E CHEFCHAOUEN

Fomos de Tanger Med direto para Chefchaouen, passando ao largo da histórica Ceuta e cruzando Tetuan apenas de passagem, da qual só pude fazer um tímido registro do pôr do sol. Outra coisa a lamentar.

Registro em trânsito do céu de Tetuan por volta das 15h


Localizada no norte do Marrocos, entre as montanhas do Rif, a cidade de Chefchaouen costuma encantar os turistas por suas casas, vielas, ruas e pequenos prédios totalmente pintados de azul. Esse mar de prédios azuis se concentra particularmente na medina, o centro histórico. Fundada em 1471, Chefchaouen se transformou em refúgio para judeus de origem espanhola, que começaram a chegar à região a partir do final do século XV fugindo da Inquisição e que mantiveram uma presença significativa na área até meados do século XX, quando, após o fim da II Guerra Mundial, muitos se mudaram para o recém-criado Estado de Israel. Foram eles os responsáveis por pintar a cidade de azul, numa referência à cor que tingia os objetos sagrados no Velho Testamento. A ideia era que o azul fosse uma lembrança permanente do poder de Deus.

Amanhecer chuvoso e com arco-íris visto a partir do hotel Dar Echaouñ

Medina de Chefchaouen

Panorâmica a partir da Av. Ras el-Maa

Fazendo pose na medina para a posteridade


Apesar de dominada atualmente pela cultura berbere-muçulmana, Chefchaouen continua mantendo sua paisagem tradicional. O azul que se espalha por toda parte atrai viajantes do mundo inteiro. Além disso, há uma lenda que afirma que a cor azul tem o poder de afugentar os mosquitos, que são muitos na região.

Infelizmente, como consequência dos atrasos anteriores, também não pudemos dar a Chefchaouen a atenção que a cidade merecia. Permanecemos lá menos de 24 horas, tempo insuficiente para explorar a cidade com qualidade. Ainda assim, considero a passagem por lá imperdível. Numa eventual próxima vez, junto com Ceuta e, talvez, Tetuan, incluiria mais tempo em Chefchaouen.


VOLUBILIS

Nosso passo seguinte foi o sítio arqueológico de Volubilis, depois de um estirão de 160km. Volubilis foi uma cidade romana, cujas ruínas, inscritas na lista do Patrimônio Mundial da UNESCO desde 1997, constituem atualmente um sítio arqueológico parcialmente explorado escavado, nos arredores da cidade de Moulay Idriss.

Outra falha em nosso roteiro, Moulay Idriss é considerada pelos muçulmanos marroquinos como a cidade mais sagrada do Marrocos. Nela está o mausoléu de Moulay Idriss I, descendente direto de Maomé, neto de Fátima, filha do profeta. Moulay Idriss é o homem santo mais venerado do Marrocos, fundador da cidade, em 1789, e da primeira dinastia árabe e muçulmana do país. Por essa razão Moulay Idriss é o destino de peregrinação de muitos devotos. Segundo a tradição, sete peregrinações a Moulay Idriss equivalem a uma peregrinação a Meca. Há várias gerações a primeira visita oficial do rei de Marrocos após a sua coroação é a Moulay Idriss. De qualquer forma, o roteiro contratado por nós não incluía Moulay Idriss, mesmo Volubilis sendo tão perto dela.

Arco de Caracala

Basílica (ao fundo)

Piso da construção conhecida como Casa do Efebo, representando Baco e Ariadne adormecida

Via Decumanus Maximus e a Porta de Tingis


Essa antiga cidade está localidade numa fértil planície agrícola e se desenvolveu a partir do século III a.C. como um assentamento fenício-cartaginês, tendo crescido rapidamente sob o domínio romano a partir do século I a.C., até ocupar uma área de aproximadamente 40ha, rodeada por muralhas com 2,6 km de perímetro. Sua prosperidade, que pode ser constatada por suas casas luxuosas, decoradas com grandes mosaicos de chão, seus edifícios públicos, sua basílica, um templo e um arco do triunfo ainda parcialmente de pé tiveram como fonte, principalmente, o cultivo de oliveiras, de cereais e da criação de animais selvagens para os espetáculos de gladiadores.

A cidade foi dominada por locais por volta do ano 285 e nunca mais foi reconquistada por Roma, devido fundamentalmente à sua localização remota e de difícil defesa, na fronteira sudoeste do Império Romano. Continuou a ser habitada durante pelo menos mais 700 anos, primeiro como uma comunidade latinizada cristã, e depois como uma localidade islâmica. No final do século VIII tornou-se a capital de Idriss ibn Abdallah, o fundador da dinastia idríssida, o primeiro Estado muçulmano do Marrocos. Abandonada no século XI, Volubilis, com a transferência da capital idríssida para Fez, a maior parte de sua população se mudou para a nova cidade de Moulay Idriss.

As ruínas se mantiveram praticamente intactas até serem arrasadas, em 1755, pelo grande terremoto de Lisboa, que desencadeou ondas que atingiram também as costas atlânticas da África e da América. Pouco depois, serviram de pedreira para a construção de Meknès, pouco mais de 30km ao sul. Só no final do século XIX é que o local foi definitivamente identificado como sendo a antiga Volubilis.

As escavações arqueológicas mostraram que Volubilis é um exemplo excecionalmente bem preservado de uma grande cidade colonial romana nos limites do império. A propósito, vale também a visita ao Centre d'Interprétation de Volubilis, um pequeno mas muito bem organizado museu contando a história dessa cidade romana.


MEKNÈS

O passo seguinte foi uma breve parada em Meknès, que, sem dúvida, também mereceria um tempo maior em uma volta ao Marrocos. Além do tempo escasso, por questões de logística da agência, tivemos que permanecer algum tempo sem nosso guia e motorista. Era um dia frio e chuvoso. Isso somado a um certo pânico por estarmos pela primeira vez sozinhos em meio a uma enorme quantidade de pessoas falantes de uma língua que não éramos capazes de falar, compreender ou ler. Esse primeiro impacto não nos permitiu dar praticamente nenhum passo. Tivemos que controlar a ansiedade e a desorientação até que nosso guia chegasse de volta.

Foi uma longa espera. Quando nos reencontramos com Mustafa e Ibrahim já não chovia tanto, mas, por outro lado, já não tínhamos mais tempo. Na verdade, a sugestão de roteiro feita pela agência de turismo indicava que estaríamos de passagem por Meknès. Mas logo ao chegar à cidade o visitante já se dá conta de que talvez valesse a pena mais algum tempo para conhecê-la.

Mekès é uma das maiores cidades do Marrocos e uma das mais importantes historicamente, sendo uma das chamadas “cidades imperiais” – juntamente com Fez, Marrakech e Rabat, a atual capital – por ter sido a capital do país durante o reinado do proeminente sultão Moulay Ismail, da dinastia alauita (a mesma do atual monarca do Marrocos), entre 1672 e 1727. Seu centro histórico está classificado como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO desde 1996. A cidade é produtora de cereais e frutas e possui indústrias de transformação de frutas e verduras, de produção de azeite de palma, fundições de metal, destilarias, além de produzir cimento e peças artesanais, sobretudo tapetes, e lã.

Rodeada por uma enorme muralha de 40km, Meknès foi construída há mais de 350 anos. O cartão postal da cidade é a Bab Mansur el-Aleuj, a mais importante e mais monumental das 20 portas da cidade. É um arco do triunfo em forma de ferradura com 8m de abertura e 16m de altura, ricamente decorado, que foi terminado em 1732.

Bab Mansur el-Aleuj


Em frente a ela fica outro cartão postal da cidade, a Praça Hedim (abaixo), onde acontece todo tipo de atividade comercial popular.


Além da Praça Hedim, o único lugar onde pudemos nos deter por alguns minutos foi o Reservatório Souani. Trata-se de um reservatório de água que faz parte do complexo arquitetônico e histórico dos Estábulos Reais (Heri es Souani) de Meknès. O reservatório é abastecido por poços localizados no próprio reservatório e antigamente supriam o estábulo, o palácio do sultão e os arredores da cidade. O entorno desse histórico reservatório é um agradável espaço público, pavimentado e com tratamento paisagístico. Atrás dele ficam os antigos Estábulos Reais, impressionantes pelos seus arcos com uma vista quase infinita.

Reservatório Souani e Estábulos Reais (vistos por dentro, abaixo)


Com um exército tão extenso, Moulay Ismail foi obrigado a dar muita atenção aos seus cavalos utilizados nas guerras. Ao lado de um lago artificial, o sultão mandou construir estábulos para seus 12 mil animais. Além da água disponível em abundância, os cavalos contavam com o feno estocado em celeiros imensos de 120 metros de extensão. Diz uma lenda que o sultão dava maior importância a seus cavalos do que aos humanos – com exceção, é claro, de suas mais de 500 concubinas.

Vale dizer, a propósito, que a cidade inteira é marcada pela presença do Mulay Ismail, sobre o qual há várias lendas, mas muitos episódios e feitos fartamente documentados. Embora seja visto pelos historiadores como um tirano sanguinário que adornava as muralhas com crânios de pessoas assassinadas, ele é ao mesmo tempo venerado pela população. Além disso, foi comprovadamente o pai de 867 filhos, motivo pelo qual aparece no Guiness Book of Records como o homem com mais filhos biológicos da história.

Esse etapa da viagem terminaria em Fez, a 64km de Meknès na direção nordeste, onde passaríamos a nossa segunda noite. Acompanhe no mapa cada um dos nossos passos e vá pensando em qual seria seu roteiro. Nos encontramos em Fez daqui a pouquinho.



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