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  • Foto do escritorAlberto Moby Ribeiro da Silva

LISBOA: OS ENCANTOS DO BELÉM

Atualizado: 18 de jun. de 2023


Depois de ter apresentado Almada, que tem sido minha base de apoio em Portugal todas as vezes em que estive por lá, está na hora de atravessar a Ponte 25 de Abril para conhecer Lisboa, capital e maior cidade portuguesa. Essa bela e vibrante cidade, cheia de história, cultura e diversão também é a mais populosa do país, com uma população de 544.851 habitantes, segundo o censo de 2021. Em sua área metropolitana vivem quase 2,9 milhões de pessoas, sendo essa também a maior e mais populosa área metropolitana do país.

Atualmente, a cidade é considerada como um dos principais centros econômicos da Europa, graças ao seu crescente avanço econômico, impulsionado principalmente pelo fato de ela abrigar o maior porto de cargas da costa atlântica europeia. Além disso, seu aeroporto internacional é uma das principais portas de entrada do continente europeu, recebendo anualmente mais de 20 milhões de passageiros. Lisboa conta também com uma malha rodoviária e um sistema de ferrovias de alta velocidade – a Alfa Pendular – que a liga às principais cidades portuguesas. Por essa razão, a capital portuguesa acumula excelentes indicadores quanto ao número de visitantes anuais, sendo um dos principais destinos turísticos da Europa. É por essa razão que, por exemplo, a cidade foi considerada a 11ª cidade mais popular do mundo, ficando à frente de cidades como Rio, Madri, Berlim e Barcelona e, em 2018, conquistou os títulos de “Melhor Cidade Destino” e de “Melhor Destino City Break” do mundo, conferido pela organização World Travel Awards, após uma votação internacional da qual participaram centenas de profissionais e empresários do turismo de todo o mundo. Aliás, nessa votação Portugal foi considerado o melhor destino turístico do mundo.


LISBOA E O TERREMOTO

Mas antes de falar da linda capital portuguesa é preciso falar sobre um desastre de proporções gigantescas se abateu sobre a cidade na ensolarada manhã do dia 1º de novembro de 1755. Sem saber nada sobre ele fica difícil entender a Lisboa atual. Estou falando de um grande terremoto, que pode ter chegado a 9 graus na Escala Richter, que vai até 10. Calcula-se que nesse terremoto podem ter morrido até 50 mil pessoas – cerca de ¼ da população de então, que era de aproximadamente 200 mil pessoas – e que desabaram cerca de 10 mil construções.

Alegoria ao Terramoto de 1755, de João Glama Strobërle, c. 1760


A Lisboa do século XVIII era uma cidade que ainda preservava seu aspecto medieval, cheia de ruas estreitas, sinuosas e sujas. Era, portanto, uma cidade frágil, cujos edifícios haviam sido construídos há séculos, segundo técnicas e com materiais já considerados ultrapassados para aquela época. Talvez por essa razão o terremoto que sacudiu a cidade tenha tido efeitos tão devastadores. Relatos da época contam que os tremores duraram entre sete minutos e 15 minutos. Embora seja praticamente impossível saber onde foi seu epicentro, cálculos baseados em informações da época indicam que ele aconteceu a sudoeste de Portugal, entre cerca de 200 km e 300 km de Lisboa, no meio do Oceano Atlântico, atingindo também regiões de outros países, como, por exemplo, Espanha e Marrocos.

Em Lisboa, muitas pessoas desesperadas e fugindo dos desabamentos e incêndios que aconteciam por toda a cidade fugiram para a Baixa, região mais próxima ao Rio Tejo. No entanto, ao chegarem lá, elas foram atingidas um tsunami que inundou toda aquela região. Muitos dos que não morreram nos desabamentos e nos incêndios acabaram morrendo atingidas pelo tsunami.

Entalhe em cobre de autor desconhecido, 1755


Além das vidas humanas, a destruição material foi enorme. A Biblioteca Real, por exemplo, que tinha em seu acervo mais de 70 mil volumes, foi totalmente destruída. A Ópera do Tejo, inaugurada naquele mesmo ano, também foi destruída. Além disso, entre as construções que desabaram foram contabilizadas 35 igrejas, 55 palácios e cerca de 10 mil outros edifícios em toda a cidade viraram ruínas.

Convento do Carmo, um dos poucos testemunhos do terremoto de 1755 ainda visíveis em Lisboa


D. José I, que era o rei de Portugal quando ocorreu o terremoto, foi obrigado a viver em um complexo de tendas construído em um local chamado Alto da ajuda até sua morte, em 1777. Esse lugar foi escolhido por ser localizado em uma elevação, o que permitiu que tivesse sido pouco afetado pela destruição. As tendas construídas lá ficaram conhecidas como Real Barraca da Ajuda e só desapareceram porque foram destruídas por um incêndio, já no fim do século XVIII.

A destruição de Lisboa foi quase tão completa que sua reconstrução se estendeu por séculos. O desenho da cidade foi totalmente remodelado e a antiga cidade medieval, cheia de ruas pequenas e tortas e becos deu lugar a ruas lineares e largas. As fachadas dos prédios, por sua vez, tiveram que seguir diretrizes muito precisas determinadas pelo Estado.

Por outro lado, o projeto de reconstrução da cidade fez entrar para a história um dos personagens mais carismáticos de Portugal, Sebastião José de Carvalho e Melo, depois conhecido como Marquês de Pombal (ao lado, em retrato de autor desconhecido), principal responsável pelo projeto de reconstrução da cidade. A reconstrução conduzida por ele deu um ar tão completamente diferente à capital portuguesa, consolidando sua posição como secretário de Estado (chefe de Estado) de Portugal, que por essa razão o novo aspecto arquitetônico e urbanístico da Lisboa reconstruída ficou conhecido como “estilo pombalino”. Além disso, o terremoto contribuiu com um efeito colateral fundamental para o avanço científico, ao impulsionar estudos fundamentais na área de sismologia.

Ao mesmo tempo, na cultura popular, o terremoto fez com que muitos enxergassem o desastre como um castigo divino. O exemplo mais conhecido talvez seja o do padre jesuíta Gabriel Malagrida, que no ano seguinte publicou um panfleto tratando o terremoto como um castigo de Deus. Por essa razão, ele acabou sendo denunciado na Inquisição, acusado de heresia e morto na fogueira em 1761.


LISBOA HOJE

Voltando à Lisboa do século XXI, é preciso de dizer, antes de mais nada, que conheço muito pouco da cidade, apesar de já ter estado por lá algumas vezes. Como disse antes, a capital portuguesa é uma cidade cada vez mais bonita e vibrante e cheia de atrações e atividades culturais. Talvez valesse a pena ficar em Lisboa por vários dias – tipo um mês ou mais de férias –, mas a proximidade com outros pontos de interesse, dentro e fora de Portugal, é irresistível para quem vive em um país continental como o Brasil.

Além do mais, a Lisboa de hoje tem várias camadas de modernidade, desde a cidade pombalina, que começou a nascer dos escombros do terremoto de 1755, à Lisboa tecnológica, fruto, principalmente, dos aportes da União Europeia. Um passeio por essas várias camadas é encantador. Mesmo assim, vou seguir aqui um roteiro da minha memória, deixando de lado outras lógicas, como a proximidade geográfica entre cada atração ou afinidades de interesse, do tipo museus, praças etc. Vamos ver no que dá.


BELÉM

Começo pelo emblemático bairro do Belém, a menos de 10 km do coração da cidade. E de onde vem todo o interesse por Belém? E que essa freguesia, a menos de 10 km do coração da cidade, tem sua história intimamente ligada às chamadas Grandes Navegações portuguesas. Foi de lá que saíram as frotas de Vasco da Gama, em 1497, e de Pedro Álvares Cabral, em 1500, em busca de novos caminhos para as Índias. Esse importante papel continua impresso na região, fazendo dela um dos mais interessantes passeios na capital portuguesa. E, como tudo é pertinho, dá pra combinar vários atrativos em uma só visita.


Museu Nacional dos Coches

Podíamos começar pelo Museu Nacional dos Coches, na Av. da Índia. Tomando o comboio (trem) urbano da linha U 19623 no Cais do Sodré, no centro da cidade, com destino a Oeiras, você chega a ele em apenas 7 minutos. Esse museu tem uma imperdível coleção de coches e carruagens reais usadas entre XVI ao século XIX e é o museu nacional mais visitado de Portugal.

Foto: Geerd-Olaf Freyer, 2010


O museu foi criado em 1905 e hoje é formado por dois edifícios: o antigo Picadeiro do Palácio de Belém, na Praça Afonso de Albuquerque, e o novo edifício, na Av. da Índia, em frente, inaugurado em 2015. Nele estão expostos desde os coches mais luxuosos usados para viagens internacionais ou datas comemorativas, até os mais simples, que eram usados para a locomoção dentro do próprio palácio. Eles estão divididos em duas salas e cada um tem uma descrição informando a época e a quem pertenceu.


Jardim Afonso de Albuquerque

Bem em frente ao Museu Nacional dos Coches fica o Jardim Afonso de Albuquerque, que representa aproximadamente um terço da vasta área ajardinada entre o museu, o Centro Cultural de Belém e Mosteiro dos Jerónimos, dos quais falo daqui a pouco. Ele foi criado em 1902 e sofreu uma remodelação em 1940, durante as obras preparativas para a Exposição do Mundo Português.

Sua característica mais marcante são os 1.400 m² de ajardinado geométrico tendo ao centro a estátua em bronze de Afonso Albuquerque, governador colonial da Índia Portuguesa entre 1507 e 1515. É um bom lugar de descanso próximo ao complexo de museus. E para refletir sobre a longa história colonialista portuguesa, que atravessou os séculos, desde 1415, com a ocupação de Ceuta, no norte da África, e que oficialmente só terminou com a devolução do território colonial de Macau à China, em 1999.


Palácio de Belém

Atravessando a rua, você está diante do Palácio de Belém. Vale a visita a ele, entre outros motivos, por sua importância histórica. Construído pelo fidalgo D. Manuel de Portugal, filho de D. Francisco de Portugal, primeiro Conde de Vimioso, em 1559, o palácio foi comprado em 1726 pelo então rei D. João V do terceiro Conde de Aveiras, descendente do primeiro proprietário. Nessa época, ele era um palácio de verão que possuía jardins à beira do Rio Tejo, cujo leito era bem mais largo que o atual nessa região. D. João V promoveu nele uma grande reforma, investindo em uma luxuosa decoração interior, para servir de palco para seus encontros amorosos.

Na manhã do dia 1º de novembro de 1755, quando aconteceu o terremoto que devastou Lisboa, o rei D. José I – filho e herdeiro de D. João V, que tinha morrido em 1750 – estava hospedado com a família no Palácio de Belém, que praticamente não sofreu nada. Ainda assim, o rei, temendo que pudesse acontecer algum desabamento, mandou montar tendas no jardim do palácio, onde ele e seus familiares passaram viver provisoriamente, enquanto o prédio serviu como hospital. Na verdade, no entanto, D. José I nunca mais se recuperou do terror provocado pelo terremoto e acabou vivendo até o final de seus dias em um luxuoso complexo de barracas no Alto da Ajuda.

Desde 1910, quando Portugal passou a ser uma república, o Palácio Nacional de Belém é a residência oficial do presidente português. Junto a ele funcionam também o Museu da Presidência da República e o Museu dos Coches. Mais informações, veja no site do palácio.

Museu da Presidência da República

Nas dependências do Palácio Nacional de Belém está localizado o Museu da Presidência da República, que tem como objetivo conservar, estudar e divulgar o patrimônio museológico e arquivístico relacionado com a instituição presidencial, centrado nos titulares da chefia do Estado, na sua história e enquadramento constitucional. É importante lembrar que a república portuguesa é relativamente jovem – foi proclamada apenas em 1910, depois de ter sido um reino por oito séculos, tendo sido governado por uma sequência de 34 monarcas. No entanto, esse curto período pode ser dividido em pelo menos três: a Primeira República, de 1910 a 1926; a ditadura militar, até 1933; o Estado Novo, longo período autoritário que foi de 1933 a 1974; o período atual pós-Revolução dos Cravos.

A Revolução dos Cravos, cuja data oficial é 25 de abril de 1974, coincide também com o fim da Guerra Colonial (para os portugueses) ou Guerra de Libertação (denominação dada pelos movimentos independentistas africanos), período de confrontos entre as forças armadas portuguesas e as forças organizadas pelos movimentos de libertação das antigas colônias africanas de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique entre 1961 e 1964.

O Museu da República Portuguesa é também o responsável pelo patrimônio do Palácio Nacional de Belém e pelo Palácio da Cidadela de Cascais, residência de verão do presidente da república e, eventualmente, espaço para hospedar chefes de Estado. Desde 2011, esse palácio se tornou também um espaço aberto ao público, com visitas guiadas, exposições, concertos e outros eventos. Pode ser uma boa opção de passeio se você for visitar Cascais, balneário a cerca de 32 km a oeste de Lisboa.

Foto: Jcornelius, 2008


Pastéis de Belém

Na mesma rua, na mesma calçada e a menos de 200 m do Museu da Presidência fica um dos pontos turísticos mais famosos do bairro: a confeitaria Pastéis de Belém, conhecida internacionalmente, como o nome já diz, pelos seus famosos pastéis. Antes de mais nada é preciso dizer que esses maravilhosos pastéis não têm nada a ver nem com o formato nem com o sabor dos pastéis que nós conhecemos no Brasil. Seu formato lembra muito mais o que nós conhecemos aqui como empada, enquanto o sabor – doce! – é exatamente o que os faz tão famosos.

Diz a lenda que no início do Século XIX, perto do Mosteiro dos Jerónimos (já falo dele daqui a pouquinho) havia um engenho de cana-de-açúcar associado a um pequeno local de comércio variado. Como uma das consequências da revolução Liberal ocorrida em 1820 (aquela que obrigou o rei D. João VI, que estava vivendo no Brasil desde 1808, a voltar para Portugal), em 1834 são fechados todos os conventos e mosteiros de Portugal, expulsando do país o clero e seus trabalhadores. Para sobreviver, alguém do mosteiro teve a ideia de colocar à venda nas proximidades um doce até então só conhecido pelos padres e monges, que logo passaram a ser chamados de “Pastéis de Belém”.

Nessa época, o bairro de Belém era distante da cidade de Lisboa e o percurso era feito em barcos de vapor. Apesar disso, a imponência do Mosteiro dos Jerónimos e da Torre de Belém (também falo dela daqui a pouco) atraía os visitantes, que em seus passeios logo aprenderam a saborear os deliciosos pastéis originários do mosteiro.

Devido ao seu sucesso, em 1837 esses docinhos começam a ser fabricados em maior escala, num espaço anexo ao engenho, segundo a antiga receita secreta do mosteiro. Transmitida e exclusivamente conhecida pelos mestres pasteleiros que os fabricam artesanalmente, na Oficina do Segredo, espaço da confeitaria onde acontece a “mágica”, essa receita permanece a mesma até aos dias de hoje. A questão é tão séria que seus metres pasteleiros assinam um termo de responsabilidade e fazem um juramento em que se comprometem a nunca divulgar a receita.


Mosteiro dos Jerónimos

Pouco mais de 200 m à frente está o famoso – e imperdível – Real Mosteiro de Santa Maria de Belém, mais conhecido como Mosteiro dos Jerónimos. Devido a sua beleza arquitetônica e importância histórica, só ele já mereceria uma postagem. É considerado como o mais perfeito exemplo da arquitetura manuelina – o estilo arquitetônico praticado durante o reinado de D. Manuel I (1495-1521), mas que continuou ainda a ser praticado após sua morte. Uma variação do estilo gótico tardio, o estilo manuelino se caracteriza pelo uso até ao exagero de temas marítimos e ornamentação intensa inspirados na riqueza da chamada Era dos Descobrimentos.


A construção do mosteiro começou em 1501 e durou cerca de cem anos. Ela está diretamente ligada à chegada dos portugueses à Índia, já que com essa conquista estratégica a coroa portuguesa pôde financiar o empreendimento com os ganhos obtidos do comércio com o Oriente. O rei D. Manuel I canalizou boa parte da chamada “vintena da pimenta” (cerca de 5% das receitas obtidas com o comércio com a África e o Oriente – o equivalente a 70kg de ouro por ano) para custear os trabalhos da sua construção.

Para ocupar o mosteiro, a Coroa portuguesa designou os monges da Ordem de São Jerônimo, comunidade religiosa que permaneceu no mosteiro até a extinção das ordens religiosas em Portugal. O mosteiro foi então entregue à Real Casa Pia de Lisboa, instituição destinada ao acolhimento e educação de órfãos e à recuperação de mendigos e desfavorecidos e que ocuparia os espaços do claustro até 1940.

Logo ao chegar, o que mais chama a atenção são as fachadas (veja a ilustração da National Geograhpic, acima). Na Fachada Sul o que chama a atenção é o portal, onde, em meio a uma profusão de imagens, a figura de Infante D. Henrique – o promotor das Grandes Navegações – guarda a entrada e, acima dele, no meio, a Virgem de Belém abençoa o monumento.

No Portal Ocidental, por onde se entra no espaço sagrado, à esquerda, protegido por São Jerónimo, encontra-se o rei D. Manuel, do qual que se diz ser um retrato fiel, e, à direita, a da rainha D. Maria, sua esposa, protegida por São João Baptista.

A partir do acesso pelo portal ocidental, à direita, fica a Igreja de Santa Maria de Belém, que passou a servir como igreja paroquial da freguesia de Santa Maria de Belém após a expulsão das ordens religiosas, época em que o mosteiro perdeu grande parte de suas características originais.

No interior, ela se destaca pela bela abóbada do transepto, que não é sustentada por nenhuma coluna. Logo na entrada, depois do coro baixo, estão supostamente os restos mortais do poeta Luís de Camões, autor do famoso poema épico "Os Lusíadas", e de Vasco da Gama, comandante da primeira frota de navios a chegar à Índia, 1498. Nas capelas laterais, estão sepultados os reis, príncipes e infantes descendentes de D. Manuel I. Na capela-mor, reconstituída posteriormente, estão os túmulos do rei D. Manuel I, de seu filho e sucessor D. João III e suas esposas. Chama também a nossa atenção o sacrário em prata maciça, de meados do século XVII.

Detalhe do retábulo da capela-mor (acima) da Igreja de Santa Maria de Belém, de Lourenço de Salzedo, 1572


Outro setor fundamental da igreja é o seu coro alto.

Essa expressão pode ter dois significados ligeiramente diferentes. O primeiro se refere a uma barreira de pedra ou madeira bastante comum em catedrais e mosteiros, que tem como objetivo separar o espaço destinado ao colégio de sacerdotes ou monges do resto da igreja destinado aos leigos. Na segunda concepção – como no caso da Igreja de Santa Maria de Belém, a expressão se refere a uma tribuna elevada, com visão direta para o altar-mor de uma igreja, onde dignitários, membros do clero ou monges podiam assistir à missa isolados do resto da congregação. Neste caso, geralmente o coro alto fica localizado acima da porta principal da igreja. Sua decoração, como como é comum acontecer em todas as igrejas com esse elemento arquitetônico, é sempre ricamente elaborada, tendo como motivo figuras que representam a paixão de Cristo. Atrás do coro alto fica um espaço para o clero, com um cadeiral de coro, espaços reservados para os bispos ou abades, bem como um altar-mor, que em geral se situa em frente à abside.

Construído em algum momento anterior a 1551, o coro alto dos Jerónimos era destinado principalmente às orações em voz alta, cânticos e ofícios religiosos dos monges. De acordo com a Regra de Santo Agostinho, seguida pela Ordem de São Jerônimo, os monges permaneciam nesse lugar por sete horas, distribuídas durante o dia. Esse foi o lugar do mosteiro mais atingido pelo terremoto de 1755, com a queda da balaustrada, só reconstruída em 1883.

Foto: Valderez de Oliveira, 2019


Sobre a balaustrada do coro alto existe um imenso Cristo Crucificado, criado em 1550 pelo escultor flamengo (na atual Bélgica) Philippe de Vries, que é considerado um marco do triunfo do Renascimento em Portugal.

Além dessa escultura espetacular, é imperdível o conjunto de pinturas do século XVIII representando os apóstolos e doutores da Igreja, de autor desconhecido, que integra o cadeiral, entalhado, em 1550, em carvalho e castanheira. Cada um dos assentos possui um ressalto denominado “misericórdia”, que tinha como função dar apoio aos corpos exaustos dos monges, que, seguindo seu ritual de oração, permaneciam de pé durante parte significativa de suas horas de oração.

Foto: Manuelvbotelho, 2014

Outro dos muitos espaços encantadores no interior do Mosteiro dos Jerónimos é o seu claustro. Para quem não lembra ou não sabia, o claustro é um corredor coberto, geralmente construído ao redor do pátio de um monastério, igreja ou colégio religioso, com arcadas que sustentam o teto, de modo a cercar o espaço aberto formado pelo pátio. O claustro dos Jerónimos foi o primeiro do gênero em Portugal, possuindo dois andares abobadados e uma planta quadrada, de cantos cortados, formando um octógono virtual.

Conjugando representações religiosas, entre as quais elementos da Paixão de Cristo, símbolos da monarquia portuguesa e elementos da natureza combinados com um imaginário ainda medieval, de animais fantásticos, a riqueza iconográfica dos elementos decorativos do claustro dos Jerónimos é, no mínimo, fascinante. Não é à toa que os especialistas afirmam que são raras as construções europeias desse período com uma carga decorativa tão rica e densa de significado.

Vale destacar as gárgulas, esculturas que se projetam para fora das calhas dos telhados do claustro na forma de figuras humanas ou animalescas monstruosas, ao mesmo tempo aterrorizantes e cheias de fascínio. Originalmente, a função das gárgulas era ser desaguadouros, com o objetivo de escoar as águas pluviais a certa distância da parede, que era presença constante na arquitetura gótica. Acredita-se que as gárgulas eram colocadas nas catedrais medievais para lembrar aos apavorados fiéis que o demônio nunca dormia, exigindo a vigilância contínua das pessoas, mesmo nos locais sagrados.

No caso do Mosteiro dos Jerónimos, boa parte das gárgulas não são mais as originais, tendo sido colocadas no lá no século XIX para substituir peças antigas danificadas, mantendo a função decorativa. Pode-se distinguir as originais do século XVI das posteriores pelo fato de que essas últimas não possuem nenhum sulco para escorrer a água da chuva.

Foto: Palickap, 2017


O Mosteiro dos Jerónimos possui ainda muitos outros espaços dignos de destaque, mas acredito que o que minha memória traz aqui neste post já seja o suficiente para aguçar a sua curiosidade e a sua vontade de conhecê-lo.


Museu Nacional de Arqueologia

Aliás, na verdade, a construção se prolonga no sentido sudoeste, abrigando, ainda, o Museu Nacional de Arqueologia e o Museu da Marinha. O Museu Nacional de Arqueologia foi fundado em 1893 pelo linguista, filólogo, arqueólogo e etnólogo José Leite de Vasconcelos Pereira de Melo, mais conhecido por Leite de Vasconcelos. Depois de ter ocupado diferentes prédios, apenas a partir de 22 de abril de 1903 passa a ocupar de forma definitiva uma parte do Mosteiro dos Jerónimos.

É a instituição de referência da arqueologia portuguesa, cujo acervo reúne, hoje, numerosas coleções inicialmente pertencentes a particulares ou a outras instituições portuguesas, como, por exemplo, as coleções de arqueologia da antiga Casa Real Portuguesa, que foram incorporadas ao museu após a implantação da república em Portugal. Além dessas coleções, o museu tem incorporado ao seu acervo o resultado do trabalho de pesquisadores, sempre que se considere o valor nacional de bens arqueológicos descobertos no país.

Concebido pelo seu fundador para ser uma espécie de “Museu do Homem Português”, o MNA tem como tarefa contar a história do povoamento do território português desde suas origens até a Idade Média, embora as suas colecções possuam bens culturais e documentos que cronologicamente chegam até ao século XX. Mas ele também guarda em seu acervo uma boa quantidade de peças que vêm das mais diversas culturas ao redor do mundo – como não poderia deixar de ser em um país que um dia foi um dos maiores impérios coloniais da história.

Relevo mitraico (molde do original). Tróia, Grândola, Setúbal, séc. III


Museu da Marinha

Ainda como parte do complexo que abriga a Igreja de Nossa Senhora de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos e o Museu Nacional de Arqueologia existe também o Museu da Marinha, criado pelo rei D. Luís em 1863 com o objetivo de divulgar os assuntos militares navais, mas, principalmente, divulgar o passado marítimo português desde a chamada Era dos Descobrimentos até ao século XIX.

Foto: GrupoDicas, 2021


Além de itens como cartas navais, uniformes marítimos e instrumentos de navegação, o local conta em seu acervo com várias embarcações.

Além das peças museológicas, o museu abriga também um centro de documentação com mais de 14.500 obras, um arquivo de imagens que reúne aproximadamente 120 mil imagens e um arquivo de desenhos e planos com mais de 1.500 documentos de navios portugueses antigos. Também possui uma vasta coleção de armas e fardamentos, instrumentos de navegação e cartas marítimas, mas o que mais impressiona os visitantes são as embarcações originais, incluindo galeotas, veleiros olímpicos e o hidroavião no qual, em 1922, o geógrafo, cartógrafo, navegador e historiador, além de oficial da Marinha Portuguesa, Carlos Viegas Gago Coutinho e o aviador e também oficial da marinha Artur de Sacadura Freire Cabral completaram a primeira travessia aérea do Atlântico Sul.


Jardim da Praça do Império

Em frente ao complexo dos Jerónimos está o bonito e polêmico Jardim da Praça do Império, que pela sua denominação já diz ao que veio. Construído em 1940, tinha como objetivo ser um dos cartões postais da Grande Exposição do Mundo Português. Essa exposição, organizada sobre um aterrado onde anteriormente existia a Praia do Restelo, oficialmente tinha como objetivo comemorar os 800 anos do nascimento de Portugal e os 300 anos da restauração da independência portuguesa, depois dos sessenta anos que Portugal passou sob o domínio da monarquia espanhola, período conhecido como União Ibérica. Na verdade, no entanto, o principal objetivo da exposição era exaltar a consolidação da ditadura do Estado Novo, comandada por António de Oliveira Salazar.

O jardim é formado por um lago central, que em seu exterior apresenta os brasões de Mercê Antiga ou de Mercê Nova, pertencentes ou atribuídos a navegadores do período da chamada Era dos Descobrimentos. Distribuídos pelo jardim estão também trinta brasões florais, representando os dezoito distritos portugueses, os arquipélagos dos Açores e da Madeira e as ex-colônias de Portugal, aos quais se acrescentaram, ainda, as cruzes de Cristo e de Avis e o escudo nacional. Esses 32 brasões, na verdade, foram acrescentados ao jardim em 1961, por ocasião da XI Exposição Nacional de Floricultura.

Em 2016 foi aberto um concurso público para a requalificação do jardim. O projeto previa o desaparecimento dos brasões florais, os quais deverão ser substituídos por um gramado. A intenção de remoção dos brasões florais foi publicamente criticada por representantes políticos municipais e originou duas petições públicas em favor da reabilitação dos brasões: uma pela Junta de Freguesia de Belém e outra pela associação Nova Portugalidade. Em 2021, a Nova Portugalidade avançou com a petição “Contra o apagamento dos Brasões da Praça do Império”, que já conta com mais de 13 mil assinaturas.

Por trás dessa polêmica existem várias camadas, que o turista não tem obrigação de conhecer, mas que, na minha opinião, torna a visita muito mais interessante conhecer. Uma dessas camadas é que os que defendem a retirada dos brasões dizem que eles estão em mau estado de conservação e que alguns já não são reconhecíveis desde a própria década de 1960. Além disso, a pessoa responsável pela jardinagem que desenhou os brasões já é falecida e não deixou nenhum registro dos desenhos originais. Substituir a área dos brasões por um gramado não seria, portanto, nenhum atentado contra a memória nacional portuguesa, já que não se estaria apagando o que não existe mais.

Outra camada é a de conotação política, que entende que manter os brasões das ex-colônias seria uma ofensa a países hoje independentes e soberanos, como o próprio Brasil, por exemplo. No caso dos países africanos, como Angola, Moçambique e Guiné Bissau, essa independência foi conquistada através de guerras de independência (ou de libertação), que tirou milhares de vidas tanto de africanos quanto de portugueses.

Outra questão interessante é que é significativo que esses brasões tenham sido montados no jardim no começo da década de 1960, já que é nessa década que Portugal começa a sofrer as primeiras ameaças reais de perda de suas colônias na África e na Ásia, depois de quase um século e meio de ter perdido o Brasil.

Fato é que, caso decida ir a Portugal e, estando em Lisboa, for visitar Belém, pode ser que ao chegar ao Jardim da Praça do Império você não encontre mais nenhum vestígio dos brasões do ex-poderosíssimo Império Português. Ou não, como diria Caetano Veloso.


Centro Cultural de Belém

À direita da Praça do Império, a cerca de 300 m, fica o importante Centro Cultural de Belém (CCB). O CCB é gerido por uma Fundação que tem como objetivo a promoção da cultura em todos os seus aspectos, da música clássica ao jazz, do teatro à dança, da ópera à literatura, da arquitetura ao cinema. Além disso, o CCB também está aberto à realização de conferências e reuniões profissionais. É um espaço composto por múltiplos ambientes, com jardins, praças, lojas, restaurantes, uma sala de leitura e pelo Museu Coleção Berardo.

Escultura Habitável, de Miguel Arruda, no Jardim das Oliveiras

Figura Reclinada, Perna Arqueada, escultura de Henry Moore no Jardim das Oliveiras



Museu Coleção Berardo

Instituição museológica de referência em Lisboa para a arte moderna e contemporânea nacional e internacional, o Museu Coleção Berardo foi inaugurado em 2007. É composto por uma coleção permanente – de propriedade do multimilionário português José “Joe” Berardo – e exposições temporárias, abrigando em seu acervo obras representativas dos movimentos artísticos mais significativos do século XX aos dias atuais. Nomes como Pablo Picasso, Salvador Dalí, Marcel Duchamp, Piet Mondrian, Joan Miró, Francis Bacon, Andy Warhol, Donald Judd, Bruce Nauman ou Cindy Sherman, entre muitos outros, são apresentados no âmbito dos movimentos que suas obras permitiram definir, numa sucessão cronológica que possibilita uma viagem no tempo.

Hagamatana II, de Frank Stella, 1967


Além de todas essas atrações, o CCB oferece um espaço digital, no qual é possível acessar uma imensa quantidade de atividades já realizadas pelo centro ao longo dos anos.


Padrão dos Descobrimentos

Olhando na direção do Rio Tejo, quase em frente ao CCB, fica uma das maiores atrações de Lisboa: Padrão dos Descobrimentos. Assim como outros equipamentos urbanos localizados na freguesia de Belém, a ideia e primeira execução desse monumento, em materiais perecíveis, é de 1940, como parte das atrações da Exposição do Mundo Português, e desmontado em 1943. Seu objetivo é homenagear 32 figuras históricas envolvidas na expansão ultramarina portuguesa (ver esquema abaixo), já mencionada algumas outras vezes aqui nesta nossa conversa. Segundo os registros, era desse lugar que partiam as embarcações portuguesas na chamada Era dos Descobrimentos.

O monumento atual é, na verdade, uma réplica em calcário e concreto construída em 1960, no contexto das comemorações dos quinhentos anos da morte do Infante D. Henrique. Em 1985 seu interior foi remodelado, tendo recebido um mirante, um auditório e salas de exposições. A partir de então, o monumento passou a ser denominado oficialmente Centro Cultural das Descobertas.

Evidentemente, é extremamente polêmica a motivação para a construção do Padrão dos Descobrimentos. Alguns dizem que deveria ser demolido por ter sido um monumento construído para glorificar o Estado Novo de António Salazar. Outros se remetem ao fato de que a própria ideia de “descobrimentos” – e todas as consequências decorrentes desses tais “descobrimentos” – reafirmam uma mentalidade messiânica, “heroica” e imperialista da qual Portugal já deveria ter se livrado ao ter se consolidado como país democrático, a partir da Revolução dos Cravos, de 25 de abril de 1975. A propósito, essa polêmica – a da permanência ou não de monumentos que exaltam fatos ou personagens hoje desconstruídos como resultado de narrativas historiográficas que partem de novas perspectivas – não é algo exclusivo de Portugal. Não tenho opinião fechada sobre isso, mas acredito que talvez a existência desse tipo de monumento, que consagra narrativas clássicas, do ponto de vista dos vencedores, possa servir também como uma espécie de “feitiço contra o feiticeiro”, ao estimular a reflexão e incentivar a desconstrução dessas narrativas clássicas, sem que o monumento venha necessariamente abaixo.

Ultrapassando (pelo menos por enquanto) a questão a propriedade e/ou adequação da sua permanência, o Padrão dos Descobrimentos é um equipamento urbano que serve a outros objetivos, como, por exemplo, oferecer, a partir do seu mirante, uma vista privilegiada da Ponte 25 de Abril, da foz do Rio Tejo, do Mosteiro dos Jerónimos e da Praça do Império, em resumo, do seu belíssimo entorno. Fora o fato de que é um monumento extremamente fotogênico.

Ainda relacionado ao Padrão dos Descobrimentos, seu subsolo conta com um espaço com salas de exposições, não necessariamente relacionadas aos descobrimentos portugueses. No final de 2018, por exemplo, visitamos uma belíssima exposição chamada Contar Áfricas!

Exposição Contar Áfricas!, 2018

Obá (rei) com seu séquito, bronze em alto relevo. Reino do Benim (atual Nigéria)

Exposição Contar Áfricas!, 2018

Processo da Inquisição contra Crispina Peres, 1665, papel


Doca de Belém

Se você estiver olhando na direção do Rio Tejo, à esquerda do Padrão dos Descobrimentos fica a belíssima Doca de Belém, marina com 194 vagas para embarcações de até 12 m e todas as suas facilidades de manutenção e reparo a seco. Essa marina valoriza, além de tudo, o fato de estar localizada exatamente no mesmo lugar de onde partiam as naus portuguesas dos séculos XV e XVI, o que a torna um lugar sem dúvida carregado de uma simbologia que atrai navegadores do mundo todo.


Portugália Cervejaria

Do lado oposto, uma parada quase que obrigatória é a unidade da rede Portugália Cervejaria. A matriz, no centro de Lisboa, foi fundada em 1925 e a rede se apresenta com o compromisso de “servir comida tradicional saborosa e de qualidade, com simpatia e hospitalidade, num ambiente limpo, moderno e familiar, a um preço justo”. Nossa experiência na unidade de Belém não foi nada menos que isso – além do fato de o prédio estar localizado na área monumental do Padrão dos Descobrimentos.

Foto: Patrícia Veludo


Torre de Belém

O último ponto do nosso passeio por Belém é a encantadora Torre de Belém, a cerca de 1 km no sentido sudoeste em relação ao Padrão dos Descobrimentos. Encomendada por D. Manuel I, ela foi construída entre 1515 e 1521 para ser uma fortaleza à entrada do Tejo. É, portanto, um símbolo inegável da grande era de expansão portuguesa.

Enfeitada com cordas esculpidas na pedra, a torre possui sacada trabalhadas, tores de vigia em estilo mourisco e ameias no formato de escudos, decoradas com a cruz da Ordem de Cristo. Seu interior, em estilo gótico, serviu como depósito de armas e como prisão.

Infelizmente, por descuido de nossa parte, todas as vezes em que estivemos em Lisboa, por alguma razão chegamos tarde à Torre de Belém, fora do horário de acesso ao seu interior. Isso não nos impediu de desfrutar da beleza do seu exterior, nem de admirar o entorno, sempre tendo como bônus um pôr de sol encantador. Vale dizer que, por questões profissionais, todas as nossas viagens a Portugal foram no inverno. No entanto, o céu de Lisboa nessa época do ano está quase sempre limpo e as temperaturas, bastante elevadas, se comparadas a outras cidades europeias no inverno – inclusive em Portugal –, com temperaturas médias em torno dos 14° C, o que sempre nos garantiu uma visão espetacular do entardecer às margens do Tejo.


O BELÉM QUE AINDA NÃO CONHEÇO

Ainda em Belém, ou em locais muito próximos ao bairro, há outras atrações que tivemos que deixar de lado, pensando em próximas viagens. Faço aqui uma lista dessas atrações tendo como base informações colhidas em sites de viagem, apenas como sugestão, caso você tenha tempo para visitar esse bairro com calma, talvez em mais de um dia.

Lembro aqui, para começar, o Museu de Arte Popular, localizado junto ao Rio Tejo, entre o Padrão dos Descobrimentos e a Torre de Belém, foi inaugurado em 1940, por ocasião da Exposição do Mundo Português, já mencionada aqui várias vezes, e conta com salas para coleções permanentes e um espaço com exposições temporárias. As peças estão organizadas por províncias, e incluem cerâmicas, móveis e utensílios agrícolas, trajes, instrumentos musicais, joalharia e coloridas selas, e dá uma viva indicação da diversidade das diferentes regiões de Portugal. Esse museu esteve fechado ao público durante anos e até sofreu a ameaça de demolição, mas reabriu depois de remodelado em 2010.

O Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), na Av. Brasília, a cerca de 500 m do Museu Nacional dos Coches, é outra opção interessante. O edifício, em formas curvas, de frente para o rio Tejo, tem como marca explícita a modernidade desse prédio, característica que o separa das demais atrações da região, já que a média de idade dos outros é de 500 anos, enquanto ele existe apenas desde 2016.

Anexo ao MAAT, fica o Central Tejo - Museu da Electricidade, com ingressos à parte. Originalmente, a Central Tejo foi uma central termoelétrica que entre 1909 e 1972 fornecia eletricidade a toda a cidade e região de Lisboa e a partir de 1951 passou a ser utilizada apenas como central de reserva. Ao longo do tempo sofreu diversas modificações e ampliações, tendo passado por diversas fases de construção e produção. Embora tenha encerrado suas atividades em 1972, se transformou num testemunho de um patrimônio de grande importância para a cidade de Lisboa, razão pela qual classificado como Imóvel de Interesse Público em 1986. Finalmente, partir de 1990, a Central Tejo foi transformada em Museu da Eletricidade.

Outra atração que talvez valha a pena visitar é o Planetário Calouste Gulbenkian. Inaugurado em 1965, ao lado do Museu da Marinha, o Planetário chama, desde logo, a atenção pela sua cúpula semiesférica que pode ser vista do exterior. Lá dentro, ela serve de tela a um projetor que recria mais de 9.000 estrelas, bem como a Via Láctea, as constelações e muito mais. Os visitantes podem ainda conhecer uma exposição ligada à astronomia e à aventura espacial.

Bem próximo ao Mosteiro dos Jerónimos fica o Jardim Botânico Tropical. Fundado em 1912, já já se chamou Jardim Colonial, Jardim do Ultramar e Jardim Agrícola Tropical.

Seus cinco hectares abrigam mais de 500 espécies de flora, a maioria de origem tropical ou subtropical.


Construída em 1760, durante o reinado de D. José I, a Igreja da Memória foi erguida em agradecimento por ter escapado de um atentado nesse local, em 1758. O rei, na verdade, vinha de um encontro secreto com uma dama da nobre família Távora, quando sua carruagem foi atacada e ele levou um tiro no braço. O Marquês de Pombal, que era inimigo dessa família e usou o atentado como desculpa para acusar seus membros de conspiração, que foram torturados e executados em 1759. Foi nessa igreja, aliás, em uma capelinha lateral, que Pombal, que morreu aos 83 anos, foi sepultado.

Finalmente, acrescento a esta lista o Palácio Nacional da Ajuda. A construção original foi destruída por um incêndio, em 1795, e substituída pela atual no começo do século XIX. Essa construção, no entanto, ficou inacabada quando a família real portuguesa fugiu das tropas de Napoleão Bonaparte para o Brasil, em 1807, e ficou assim por vários anos, até que foi coroado o rei D. Luís I, em 1861. Ao sde casar com a princesa italiana Maria Pia di Savoia, mandou gastar o que fosse necessário para torna-lo o mais espetacular possível.

Siga nos dois mapas abaixo os locais que acabamos de percorrer e aqueles que eu ainda não conheço, mas que, acatando a sugestão de quem conhece, me pareceram relevantes. Se você está gostando da viagem, aguarde (com paciência, por favor...), mas continue comigo no próximo post, ainda sobre Lisboa.


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