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A LUMINOSA COIMBRA

  • Foto do escritor: Alberto Moby Ribeiro da Silva
    Alberto Moby Ribeiro da Silva
  • há 4 dias
  • 14 min de leitura
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Se fosse uma cidade brasileira, Coimbra seria considerada pequena. Entre os 5.570 municípios brasileiros, as sete cidades que ocupam uma área aproximadamente equivalente a Coimbra – 319,4 km² – estão nas posições 3.298 a 3.304. Também com relação à densidade demográfica, Coimbra, com pouco menos de 441 hab/km², seria vista como mediana, já que as cidades com densidade populacional equivalente ocupam as posições 2.683 a 2.686 no ranking brasileiro.


Acontece que, além de ser preciso considerar o tamanho minúsculo de Portugal – que caberia 92 vezes dentro do Brasil – e sua população de apenas 10,4 milhões de habitantes, preciso lembrar da importância histórica e cultural de Coimbra. Entre outras coisas, lembro que Coimbra foi capital de Portugal antes de Lisboa, desde 1131, quando D. Afonso Henriques transfere a sede do Condado Portucalense de Guimarães para lá, tendo sido fundamental para a fundação do Reino de Portugal, em 1143. Coimbra foi, portanto, a capital nacional da Europa, já que Portugal é considerado como tendo se tornado o primeiro Estado nacional europeu. Além disso, a Universidade de Coimbra, uma das principais atrações turísticas da cidade, está entre as instituições universitárias mais antigas do mundo e é a universidade europeia que mais recebe estudantes de outros países. Só por isso acho que já valeria a pena conhecer a “Coimbra onde uma vez com lágrimas se fez a história dessa Inês tão linda”, como diz uma antiga canção de Raul Ferrão e letra de José Galhardo que é considerada como um hino informal da cidade. Vamos conhecer? Ah, e sobre a linda Inês, não vou dar spoiler agora, ok?


COMO CHEGAR?

Coimbra fica no meio do caminho entre a capital, Lisboa, e o Porto. Se você estiver no Porto, a viagem até Coimbra vai demorar no máximo 1 hora e 30 minutos. Se vier de Lisboa, vai levar no máximo 2 horas e 30 minutos. Minha ida mais recente a Coimbra teve como ponto de partida Castelo Branco (ver aqui). Fiz o trajeto de comboio (trem) e a viagem durou 2 horas e 30 minutos. Em resumo, é relativamente rápido e fácil chegar a Coimbra.


CIDADE VELHA E MONUMENTOS HISTÓRICOS


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Para conhecer Coimbra, sugiro que o ponto inicial seja o Largo da Portagem. Praça central da cidade, é dela que partem importantes vias de acesso à chamada Cidade Velha. Uma de suas marcas mais icônicas é a estátua do político Joaquim António de Aguiar (1792-1874), feita pelo escultor António Augusto da Costa Mota (o tio). Nascido em Coimbra, Joaquim António de Aguiar ocupou várias vezes o cargo de ministro, tendo sido presidente do Conselho de Ministros de Portugal por três vezes. Em 1834, quando era ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça, ficou famoso por ter promulgado uma lei que declarou extintos “todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e quaisquer outras casas das ordens religiosas regulares”, determinando a secularização de todos os seus bens, que foram incorporados à Fazenda Nacional portuguesa. Por seu espírito antieclesiástico, Joaquim António de Aguiar ficou conhecido como o “Mata-Frades”.


Com relação ao escultor Costa Mota, é importante avisar que o “tio” que vem depois do nome dele tem como objetivo não permitir que a gente cometa o erro de dar crédito ao escultor errado. É que Costa Mota tinha um sobrinho que recebeu exatamente o mesmo nome que ele e que, além disso, também era escultor. Suas esculturas mais famosas, aliás, estão na capital portuguesa, com destaque para os túmulos do poeta Luís de Camões, autor do poema épico Os Lusíadas, e do navegador Vasco da Gama, o primeiro europeu a descobrir uma rota marítima para a Ásia, ambos localizados no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, sobre o qual eu já falei aqui.


Ainda no Largo da Portagem, vale a pena observar com a atenção a arquitetura que circunda a praça, com destaque para dois edifícios que estão entre os mais icônicos de Coimbra. O mais famoso talvez seja o Hotel Astória, inaugurado em 1926, projetado pelo arquiteto Adães Bermudes. Esse arquiteto já tinha sido responsável pelo projeto do edifício vizinho, sede do Banco de Portugal, em 1907.


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É no Largo da Portagem que começa a Rua Ferreira Borges, uma rua pedonal (rua de pedestres, no português de Portugal) repleta de cafés, bares, restaurantes e lojas. Destaco, logo no comecinho dela, a Livraria Bertrand, indispensável para quem ama uma boa leitura e, como eu, ainda tem como fetiche o cheirinho de um bom livro novinho em folha.


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Foto: Rafal K.

Ao lado dela fica a igualmente indispensável Pastelaria Briosa. Na verdade, a fachada bastante discreta não dá nem uma pálida ideia das maravilhas que você pode encontrar nela. Logo ao entrar você é imediatamente conquistado tanto pela atmosfera acolhedora quanto pelo delicioso aroma de doces e café fresquinho. Pra completar, o charme das mesas, as fotografias antigas de Coimbra, a iluminação suave e música de fundo fazem da Pastelaria Briosa um saboroso pedaço do Paraíso. Talvez o ideal nem seja começar o passeio por ela, mas, ao contrário, deixá-la para o fim do dia, já que ela é o lugar ideal para uma pausa relaxante e deliciosa depois de algumas horas de caminhada.


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Seguindo em frente na Ferreira Borges vem uma agradável confusão de lojas de artesanato e souvenirs, farmácias, ourivesarias, bancos e todo tipo de estabelecimento comercial. O trajeto é bem curto, de cerca de 250 metros. Ao final dele você encontra, à esquerda, as Escadas de São Tiago. Descendo essas escadas, você chega à Praça do Comércio, onde está a Igreja de São Tiago. Construída entre o final do séc. XII e início do séc. XIII, ela é considerada um dos grandes monumentos ao estilo românico da cidade. Na verdade, essa construção sofreu várias mutilações ao longo dos séculos, tendo sido a maior delas em 1861, para o as obras de alargamento da atual Rua Visconde da Luz, mas mesmo assim merece uma visita.


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Subindo de volta as Escadas de São Tiago, à esquerda está a Rua Visconde da Luz – na verdade, uma continuação da Ferreira Borges –, com mais lojas comerciais, talvez mais voltadas para os próprios coimbrenses (ou coimbrãos, como se diz por lá). Ao final dela fica a tranquila Praça 8 de Maio, onde está o Mosteiro de Santa Cruz, localizado entre a Câmara Municipal de Coimbra e o Café Santa Cruz. Fundado em 1131, durante o reinado de D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, ele pertencia à Ordem dos Cônegos Regrantes de Santo Agostinho.


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Foto: Diego Delso (2012)

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Foto: Vítor Oliveira (2019)

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O Mosteiro de Santa Cruz foi o mosteiro de maior influência na cidade e no país. Além disso, existem evidências de que Santo Antônio (1195-1231) e o grande poeta português Luís de Camões (1524-1580), autor do grande poema épico Os Lusíadas, tenham estudado lá, já que o Mosteiro de Santa Cruz administrava uma escola que era considerada uma das melhores instituições de ensino da época medieval em Portugal para estudos teológicos. Na época, um parente do poeta, D. Bento de Camões, era prior do mosteiro. Santa Cruz também contava com uma grande biblioteca e um scriptorium (espaço onde livros manuscritos eram produzidos durante a Idade Média). 


Além de todos esses fatos, o Mosteiro de Santa Cruz também é uma atração imperdível para quem se interessa por História porque é lá que estão enterrados os restos mortais de D. Afonso Henriques (que morreu em 1185) e seu filho, o rei D. Sancho I (falecido em 1211).


				Foto: Vítor Oliveira (2009)
Foto: Vítor Oliveira (2009)

Do lado direito do mosteiro fica o histórico Café Santa Cruz. Ele é um dos mais tradicionais Cafés e restaurantes de Coimbra, pois fica instalado no edifício da Igreja Paroquial de São João de Santa Cruz, uma antiga igreja em estilo manuelino construída por volta de 1530. Com a extinção das ordens religiosas, em 1834, no contexto da Reforma Pombalina (Ver mais sobre ela aqui), a igreja é dessacralizada e passa a abrigar diversos estabelecimentos comerciais e de governo, como um armazém de ferragens, o quartel da polícia, o corpo de bombeiros e até uma casa funerária. Finalmente, em 1923, é aberto o Café Santa Cruz, um café e restaurante que recebe uma fachada em estilo neomanuelino que permanece até os dias atuais.


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Do lado edifício do mosteiro está o edifício dos Paços do Concelho de Coimbra (Câmara Municipal), que tem uma história rica e multifacetada que começa no séc. XVI. A construção atual é uma imponente estrutura neoclássica construída no séc. XIX, entre 1842 e 1848, durante o reinado de D. Maria II, em substituição ao antigo edifício, no mesmo local, destruído por um incêndio. Vale a pena um passeio.


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Voltando ao final da Ferreira Borges, à direita está a icônica Rua do Corpo de Deus, uma rua estreita e íngreme com características tipicamente coimbrãs. Quase ao final dela há uma pequena ladeira à esquerda onde fica o interessantíssimo bar À Capella – Casa de Fados. Como o nome sugere, esse local, na verdade, era uma capela grandiosa – Capela da Victória, construída no século XIV – que foi adaptada para se transformar em um bar de petiscos e casa de apresentações de fado, a música tradicional portuguesa.


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Se você caminhar até o final dessa rua e virar à direita, na Rua Colégio Novo, subindo mais um pouco, chega à Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Como este blog não pretende ser apenas um passeio sem compromisso, lá vão as informações sobre a origem do edifício. Esse conjunto, que, além da própria faculdade, abriga, no corpo eclesiástico contíguo, a igreja/arquivo/museu da Misericórdia de Coimbra, foi construído para ser instalado o antigo Colégio de Santo Agostinho, também conhecido por Colégio da Sapiência ou Colégio Novo — um colégio renascentista dos crúzios (Cônegos Regrantes de Santa Cruz). Sua fundação é de meados do século XVI e em 1604 já estava em funcionamento. A igreja, por sua vez, foi consagrada em maio de 1630, quando foram concluídas as coberturas da nave e capelas. Vale a pena dar uma entradinha e respirar por alguns minutos o ambiente movimentado do claustro da faculdade, antes de seguir em frente, seguindo pela Rua Coutinhos, continuação da Colégio Novo, em direção à Sé Velha.


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SÉ VELHA

A Sé Velha de Coimbra é uma das mais antigas catedrais de Portugal. Construída no século XII, é uma catedral românica com uma fachada impressionante e um interior ricamente decorado. A sua fachada maciça, em forma de fortaleza, transmite a ideia de igreja defensiva, típica do período da Reconquista, com portais ornados por arquivoltas esculpidas e uma rosácea que ilumina o interior sóbrio e austero. No claustro, já no estilo gótico (século XIII), os arcos apontados dão a sensação de leveza e refinamento, em contraste com a robustez do templo. Foi aqui que, em 1290, se celebrou a sagração da Universidade de Coimbra, tornando o edifício não só um marco arquitetônico, mas também histórico, como exemplo do período de transição entre o românico e o gótico, e do papel de Coimbra como berço da monarquia e da cultura portuguesa.


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MUSEU NACIONAL MACHADO DE CASTRO

Outra atração imperdível é o Museu Nacional Machado de Castro, localizado no antigo Paço Episcopal de Coimbra. Um dos mais importantes museus de arte de Portugal, surpreende pela riqueza do seu acervo e pela própria arquitetura do edifício. Construído sobre o criptopórtico romano de Aeminium, uma das estruturas subterrâneas mais notáveis do Império, o museu convida o visitante a percorrer séculos de história através de esculturas medievais, pinturas renascentistas, joalharia, cerâmica e tapeçarias. Além das coleções, os terraços do museu oferecem vistas privilegiadas sobre a cidade, transformando a visita numa experiência que une arte, arqueologia e paisagem num só espaço.


Há vários caminhos para se chegar ao museu, que está a cerca de 250 metros da Sé Velha. Sugiro seguir a Rua do Cabido até o Beco das Condeixeiras, à direita, seguir por ele até o final, na Rua Borges Carneiro, dobrando à esquerda até o Largo Dr. José Rodrigues, onde está a entrada do museu, que fica aberto de terça a domingo, das 10 às 18h. A entrada é gratuita para crianças até 12 anos da idade, custam € 5,00 para jovens entre 13 e 24 anos, € 10,00 para adultos e € 5,00 para maiores de 65 anos e os ingressos podem ser obtidos online. Pessoas residentes em Portugal têm direito a 52 dias de entrada gratuita por ano em museus, monumentos e palácios, em qualquer dia da semana, mas os ingressos, chamados de “Acesso 52”, só podem ser retirados nas bilheteiras físicas dos museus e monumentos portugueses.


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				Foto Rodrigo Andrade
Foto Rodrigo Andrade
				Pietà atribuída a Frei Cipriano da Cruz
Pietà atribuída a Frei Cipriano da Cruz

UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Do Museu Nacional Machado de Castro, minha sugestão é pegar a estreita Travessa da Rua do Norte, contornando o edifício da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Ao final da travessa, dobre à esquerda, na Rua do Norte, e suba os cerca de quarenta degraus da escadaria que forma parte da rua. Você estará diante do coração da Universidade de Coimbra, onde se localiza o histórico conjunto monumental que ocupa o antigo Paço Real medieval conhecido como Pátio das Escolas. Convertido em sede da instituição a partir do século XVI, era ali que reis habitavam e eram tomadas decisões políticas que marcaram a história de Portugal, antes que o espaço se transformasse no mais simbólico núcleo universitário do país.


O Pátio das Escolas é cercado por um conjunto arquitetônico imponente, composto por prédios administrativos, faculdades, biblioteca, dos quais se destacam a Torre da Universidade, de 1728, visível de qualquer parte da cidade, e a majestosa Porta Férrea, que marca a entrada para séculos de conhecimento e tradição. Caminhar por esse recinto é entrar num cenário que mistura poder, fé e ciência, refletindo a longa trajetória da universidade, fundada em 1290 e considerada uma das mais antigas da Europa.


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Foto: Manuelvbotelho (2014)

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Foto: Vladas Portapas


Entre os edifícios mais icônicos do Pátio das Escolas está a Biblioteca Joanina, verdadeira joia barroca do século XVIII, ricamente decorada em talha dourada – uma técnica artística muito usada em Portugal, especialmente entre os séculos XVII e XVIII, que consiste em esculpir a madeira (a “talha”) e depois recobri-la com folhas de ouro –, com um acervo de milhares de volumes raros. Ao lado fica a Sala dos Capelos, antiga sala do trono dos reis de Portugal, que hoje é utilizada para cerimônias solenes da academia, onde a tradição se mantém viva nos rituais e nas vestes dos estudantes.


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				Foto: Josep Renalias (2008)
Foto: Josep Renalias (2008)

Antes de deixar o Pátio das Escolas, é indispensável entrar na Capela de São Miguel, é um verdadeiro tesouro do estilo manuelino e barroco. Construída no século XVI, encanta os visitantes com o seu magnífico portal renascentista, o interior revestido de azulejos seiscentistas e o impressionante órgão barroco, considerado um dos mais belos de Portugal. Apesar de sua pequena em dimensão, a capela é grandiosa em detalhe.


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Todo o núcleo central da universidade foi declarado Patrimônio Mundial da UNESCO em 2013, em função da sua relevância cultural universal. Para o visitante, o espaço oferece uma viagem única pela história da educação, da arte e da arquitetura portuguesas, num cenário que une o esplendor do passado com a vitalidade do presente.


JARDIM BOTÂNICO

Saindo do Pátio das Escolas, contorne a Biblioteca Geral pela Rua José Falcão, dobre à direita, pela Rua de São Pedro e pegue, à esquerda, a Rua Arco da Traição até encontrar a entrada do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, o mais antigo jardim botânico de Portugal. Este oásis verde oferece uma variedade de plantas exóticas e locais, além de belos recantos para relaxar e apreciar a natureza. Criado no século XVIII para apoiar o ensino da medicina e das ciências naturais, hoje o Jardim Botânico proporciona um passeio tranquilo e extremamente agradável entre alamedas sombreadas por árvores centenárias, estufas tropicais e jardins ornamentais, onde a diversidade de espécies do mundo inteiro oferece cenários de rara beleza.


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PARQUE DOUTOR MANUEL BRAGA

Voltando ao Largo da Portagem (sugiro o trajeto pela Couraça de Lisboa), sugiro um passeio pelo belíssimo Parque Dr. Manuel Braga, às margens do Rio Mondego. Ao longo do trajeto entre jardins bem cuidados e amplas avenidas, você tem uma vista única sobre a cidade histórica, com a Universidade no alto da colina. Durante a caminhada, você encontra cafés, esplanadas e ciclovias, além da incrível vista das pontes e do casario refletida nas águas do rio. Além disso, o Parque está repleto de monumentos a personagens que foram destaque nas artes e na cultura de Coimbra, como o escritor Antero de Quental e a poeta Florbela Spanca.


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MOSTEIRO DE SANTA CLARA-A-NOVA

Na margem do Rio Mondego oposta à Cidade Velha fica o Mosteiro de Santa Clara-A-Nova. Construído no século XVII, foi construído para substituir o antigo Mosteiro de Santa Clara-A-Velha, frequentemente inundado pelas águas do rio. Localizado numa colina com vista privilegiada sobre a cidade, o conjunto se destaca pela sua imponente igreja barroca e pelo vasto claustro, considerado um dos maiores da Península Ibérica. Uma das atrações mais importantes do interior do mosteiro é o túmulo de Santa Isabel, rainha de Portugal, padroeira da cidade, cuja memória é celebrada até hoje. O primeiro túmulo da padroeira, executado por Mestre Pero, em 1330, está atualmente no coro baixo da igreja; é uma obra única e exemplar da arte tumular gótica. Já o claustro, de 1733, do arquiteto e engenheiro Carlos Mardel, apresenta já a transição para uma nova linguagem artística conhecido como classicismo.


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Foto: Luis Carregã

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ANTES DE VOCÊ IR EMBORA...

A LINDA INÊS!

Termino este passeio contando a história da linda Inês. Ela se chamava Inês de Castro e era uma nobre galega que viveu no século XIV e ficou famosa por sua trágica história de amor com Dom Pedro, que mais tarde seria rei de Portugal. No começo da história, ela era apenas uma dama de companhia de Dona Constança Manuel, a esposa de Dom Pedro, mas acabou se apaixonando pelo príncipe, e os dois acabaram vivendo um amor proibido.


Não podemos esquecer que, na Europa, entre os séculos XI e XVIII, especialmente entre as famílias nobres e reais, o casamento era quase sempre por conveniência. Nesses casamentos, o amor não tinha praticamente nenhuma importância, já que o objetivo dos casamentos era fortalecer alianças políticas, econômicas ou sociais, garantir heranças, ampliar territórios ou consolidar poder. Por isso, o romance entre Pedro e Inês acabou gerando uma grande tensão política, já que a família real e os nobres temiam a influência de Inês sobre o príncipe, além de quererem a todo custo evitar os possíveis herdeiros do casal. Afinal, a mulher que estava destinada a ser a futura rainha era Constança, com a qual Dom Pedro deveria "fabricar" o seu sucessor no trono de Portugal.


Só que Constança morreu cedo, em 1349, aos 33 anos de idade. Com a morte da esposa, Dom Pedro não pensou duas vezes e passou a viver com Inês, mesmo contra a vontade do pai, o rei Afonso IV, provocando um escândalo na corte e o rompimento de Pedro com seu pai. Depois de uma série de episódios dignos de um romance de paixão e aventura, em 1355, Dom Afonso IV planeja e manda assassinar Inês, em um ato que chocou todo o reino.


Anos depois, quando se tornou rei, Pedro vingou sua amada, executando os responsáveis pelo assassinato de Inês, declarando que ela havia sido sua esposa legítima e chegando a “coroá-la” postumamente. Em algumas versões dessa história, chegou a correr a versão – ao que tudo indica, fake news – de que Dom Pedro teria mandado desenterrar Inês, vestir o que sobrou dela com roupas reais e que o tal coroamento póstumo teria acontecido de fato, com o esqueleto de Inês vestido de rainha e sentado num trono ao lado do rei.


A história de Pedro e Inês ficou marcada como símbolo do amor impossível e da tragédia romântica, sendo lembrada até hoje na literatura, na música e no imaginário popular português. Ela está presente, por exemplo, nas estrofes 118 a 135 do Canto III do fantástico poema épico Os Lusíadas, do poeta Luís Vaz de Camões, publicado em 1572 e considerada a maior obra-prima do Renascimento português.


É dessa história trágica que vem o ditado popular “Agora é tarde, Inês é morta”. Segundo a tradição, a frase teria sido usada para indicar que não há mais como consertar algo que já aconteceu ou que uma oportunidade foi perdida definitivamente. No caso, se Dom Pedro não tivesse se ausentado, Dom Afonso IV não teria mandado matar Inês. Essa falha do futuro rei de Portugal teria sido a responsável pelo assassinato de sua amada e não havia nada mais a fazer. Com o tempo, a expressão entrou no imaginário popular português, sendo usada em situações cotidianas para transmitir essa ideia de perda definitiva ou oportunidade perdida. A ideia chegou ao Brasil nas embarcações dos invasores portugueses e ainda resiste no repertório de ditos populares de muita gente. Ah! e também nos primeiros versos da canção Romance da Bela Inês, de Alceu Valença, gravada no álbum Leque Moleque, de 1986:

	Túmulo de Inês de Castro, em Alcobaça
Túmulo de Inês de Castro, em Alcobaça

Uma musa matriz de tantas músicas

Melindrosa mulher e linda, e única

Como o lado da Lua que se oculta

Escondia o mistério e a sedução


Mas essa já é outra história... Se você gostou de viajar na minha viagem por Coimbra, está na hora de tomar o comboio de volta para Lisboa, Porto ou qualquer outro dos vários destinos possíveis do pequeno e imenso Portugal. Bora?


Abaixo, o mapa com os pontos principais do meu roteiro por Coimbra. Importante dizer que não fiz todo o trajeto em apenas um dia e que, além de passear por Coimbra, ainda fiz outros dois roteiros que tiveram a cidade como ponto de partida: um bate-e-volta a Fátima (89 Km ao sul) e outro – um pouco mais longo – a Viseu, Miranda do Corvo, Lousã e Talasnal (cerca de 52 Km no serntido sudeste).


De Coimbra, meu novo destino era Aveiro, com paradas em Montemor-O-Velho e Figueira da Foz. Mas tudo isso é conversa para outro post.


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Comentários


2018, 07.09 - Angra dos Reis-RJ - Albert

Esse cara sou eu

Sou formado em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, licenciado em História, mestre e doutor em História Social pela Universidade Federal Fluminense - UFF. Tenho 68 anos, sou carioca, mas trabalho e moro em Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro. Sou divorciado, tenho duas filhas do meu primeiro casamento e uma netinha. Tenho muitos interesses, todos eles ligados a arte, cultura e sociedade. Acho que viajar é dos meus interesses e paixões o que melhor sintetiza todos os outros interesses e paixões que tenho na vida.

 

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