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  • Foto do escritorAlberto Moby Ribeiro da Silva

A IMPERDÍVEL SINTRA, PERTINHO DE LISBOA

Atualizado: 21 de set. de 2023


Foto: Bruna Scirea, 2020


Decidiu viajar pra Portugal? Provavelmente, você começa por Lisboa, né? Não importa quantos dias você reservou para Lisboa, é indispensável separar pelo menos um dia para a encantadora Sintra. Essa bela cidade – pela divisão administrativa de Portugal, a denominação correta é vila – da área metropolitana de Lisboa tem encantos imperdíveis e está a um pulo da capital portuguesa. Partindo da Estação Rocio, você chega a Sintra em 40 minutos e, portanto, é possível um bate-e-volta bastante tranquilo. Embora eu ache que talvez valesse a pena ir em um dia e só voltar no dia seguinte. O passeio que vou propor aqui está organizado em dois dias, que vou dividir em duas postagens.

A vila de Sintra é a sede do município de Sintra, que é subdividido em 11 freguesias, com cerca de 386 mil habitantes – o segundo maior do país, perdendo apenas para Lisboa. Embora existam áreas de interesse em todo o município, vamos falar aqui basicamente da vila de Sintra (mal comparando, o que chamaríamos por aqui de “centro da cidade”), onde estão suas maiores atrações, a começar pela arquitetura.

Pra começar, preciso te contar que Sintra pode não ser um bom lugar para se percorrer a pé, já que várias de suas atrações estão localizadas nas colinas que cercam a cidade. Avalie sua condição física, mas não desanime. Caso não tenha disposição (ou físico) pra andar a pé – em grande parte do percurso, subindo ladeiras –, há algumas alternativas que vão ajudar você a deslocar seu esqueleto por essa linda cidade. Então vamos lá.


CHEGANDO A SINTRA

A estação ferroviária de Sintra fica na Av. Dr. Miguel Bombarda. Bem em frente à saída da estação está o escritório da empresa de ônibus Scotturb, responsável tanto pelo Circuito da Pena (Linha 434) quanto pelo circuito Villa Express 4 Palácios (Linha 435), os dois principais circuitos turísticos da cidade. Você pode optar por fazer um dos dois circuitos imediatamente ou por conhecer primeiro o centro da vila, que está a cerca de 10 minutos a pé da estação de trem. No centro, você vai encontrar os restaurantes, lojas de souvenirs e alguns museus, do quais o mais importante é o Palácio Nacional. É um passeio bastante agradável, mas, feito isso, vai ser preciso pegar um ônibus para chegar a outras atrações, como o Palácio da Pena e o Castelo dos Mouros.

Como já indiquei acima, aviso logo que acho muito pesado fazer os dois circuitos em apenas um dia e estou assumindo aqui que você decidiu conhecer Sintra em dois dias. E também que você optou por começar o passeio pela parte mais alta, no Palácio da Pena. Para chegar lá você deve tomar o autocarro da Linha 434 – Circuito da Pena, que leva ao Castelo dos Mouros e ao Palácio da Pena. No dia seguinte, será a vez da Linha 435 – Villa Express 4 Palácios, que vai à Quinta da Regaleira, ao Palácio dos Seteais e ao Palácio de Monserrate. O bilhete, que custa € 5,00 e é válido por 24 horas, pode ser comprado com o motorista.

Como alternativa, você pode optar por fazer os passeios de tuk-tuk. Os tuk-tuks não são tão confortáveis e, em geral, são mais caros, mas são mais rápidos e mais frequentes que os ônibus. Você pode também tentar chamar um Uber, mas são muitos os relatos de que os carros costumam estar sempre muito longe, te obrigando a esperas longas, que queimam um tempo precioso.

Se estiver em um grupo, vale a pena contratar um passeio guiado com transporte. Várias agências de turismo também em frente à estação de comboios vão te oferecer essa alternativa.

Detalhe importante: existem vários tipos de combinação entre os transportes – incluindo a passagem de trem Lisboa-Sintra-Lisboa – e os palácios e museus de Sintra. Para ver que opção de tarifa fica mais em conta ou é mais atraente pra você, dá uma olhada aqui. Por outro lado, se comprar os ingressos para o Palácio da Pena, Castelo dos Mouros, Palácio Nacional e o Palácio Monserrate pelo site Parques de Sintra, você ganha tempo se livrando das bilheterias, além de ganhar descontos, proporcionais à quantidade de atrações que agendar. Mas os descontos também estão disponíveis caso você precise enfrentar a fila da bilheteria. A única exceção é a Quinta da Regaleira, para a qual você só pode comprar o ingresso na entrada. Dito isso, vamos começar.


PARQUE E PALÁCIO NACIONAL DA PENA

Classificado em 1995 como Patrimônio Mundial da UNESCO, O Palácio Nacional da Pena, Palácio da Pena ou Castelo da Pena fica na freguesia de São Pedro de Penaferrim, a 7km do centro de Sintra e a 500m de altitude. É considerado um dos principais exemplos do Romantismo Arquitetônico do século XIX no mundo, tendo sido o primeiro palácio nesse estilo a ser construído na Europa, erguido cerca de 30 anos antes de seu equivalente alemão, o Castelo de Neuschwanstein, na Baviera.

A história do palácio começa no século XII, quando ali existia uma capela dedicada a Nossa Senhora da Pena. Neste mesmo local, D. Manuel I mandou construir o Real Mosteiro de Nossa Senhora da Pena, posteriormente entregue à Ordem de São Jerônimo.

O terremoto que atingiu Lisboa em 1755, já bastante conhecido de quem vem seguindo minhas postagens sobre Portugal desde o início, deixou o mosteiro praticamente em ruínas. Mesmo degradado, o mosteiro manteve a sua atividade, mas, passados quase cem anos, em 1834 quando se deu a extinção das ordens religiosas em Portugal, foi deixado ao abandono. O Parque da Pena ainda conserva recantos que remetem a essa época, como por exemplo a Gruta do Monge, local onde os monges praticavam o recolhimento.

Pouco depois da sua chegada a Portugal, o príncipe alemão Fernando de Saxe-Coburgo e Gotha (1816-1885), que havia se casado com a rainha D. Maria II (1819-1853), filha de D. Pedro I (do Brasil, e IV, para os portugueses). Ao se casar com a rainha, esse príncipe alemão torna-se, constitucionalmente, rei-consorte, como D. Fernando II. Encantado com Sintra, ele comprou o Mosteiro de São Jerónimo, já em ruínas, para sua residência, bem como toda a mata que o envolvia. Inicialmente, seu projeto era apenas a recuperação do edifício, mas o seu entusiasmo foi tanto que ele acabou se decidindo pela construção de um palácio, prolongando a construção preexistente.

Do ponto de vista estético, o edifício é circundado por outras estruturas arquitetônicas que remetem ao imaginário medieval, com seus caminhos de ronda, torres de vigia, um túnel de acesso e até uma ponte levadiça. Mas o palácio incorpora também referências arquitetônicas de influência manuelina e mourisca que produzem nele um surpreendente cenário das “mil e uma noites”.

Aliás, atrações é o que não falta no palácio. Observe Porta Monumental, uma entrada em arco, acima da qual sobressaem vários torreões. Sua fachada é claramente inspirada na da Casa dos Bicos, da qual já falei em outra postagem.

Também vale a pena prestar atenção na Janela do Tritão, no terraço que marca a entrada para o chamado Palácio Novo, simbolizando a alegoria da criação do mundo. O tritão é um monstro da mitologia grega, meio homem, meio peixe. Assim como o monstro, esse portal divide os mundos aquático e terrestre. No piso interior fica o mundo aquático, assinalado no arco neogótico por corais que seguram três conchas, numa das quais se senta o tritão. Na parte de cima passamos para o mundo terrestre, como se vê pela árvore que nasce da cabeça do tritão, enquadrada por videiras que revestem toda a janela que se projeta aparentemente sobre os ombros do monstro.

Vale a pena percorrer com calma as dependências do palácio. Gosto particularmente da sua parte mais antiga – o claustro manuelino –, que fica logo na entrada do palácio. No entanto, há vários outros espaços indispensáveis, dos quais destaco o Salão Nobre, a Cozinha Real e a belíssima capela do antigo mosteiro, que mantém a configuração original, do século XVI, com destaque para o retábulo do altar-mor, em mármore negro e alabastro, feito entre 1529 e 1532.

Os últimos reis portugueses, principalmente D. Carlos I (1863-1908) e a esposa, D. Amélia de Orléans (1865-1951), aproveitaram bastante essa residência real. No entanto, é no Palácio da Pena que D. Amélia é surpreendida pela Proclamação da República, a 5 de outubro de 1910.

Uma curiosidade para o visitante é que os ambientes do palácio estão fielmente preservados, como se a corte portuguesa ainda vivesse lá. A mesa de jantar, por exemplo, se encontra posta, com pães de verdade sobre os pratos. Outro fato curioso é que o primeiro chuveiro de Portugal foi instalado nesse palácio, e pode ser visto na chamada “sala do duche e massagem”. Um aviso importante para que pessoas como eu, ávidas por fotografar, não se frustrem demais desnecessariamente: não são permitidas fotos no interior do palácio.

Outra informação importante: da bilheteria, na entrada do Parque da Pena, até o castelo ainda é preciso vencer alguns metros de uma subida relativamente íngreme. A boa notícia é que você pode optar por pegar um pequeno ônibus à moda antiga que leva as pessoas do portão até o alto da montanha, onde fica a entrada (€ 3,00 ida e volta).

O Parque da Pena, que circunda o palácio, é um enorme parque, de mais de 200ha, cheio de trilhas que serpenteiam por entre árvores e arbustos das mais variadas origens, pelas quais você encontra algumas fontes e mirantes. De bônus, no meio do Parque da Pena existe um romântico chalé, construído por Fernando II para sua segunda esposa, Elise Hensler, em 1869 – o famoso Chalé da Condessa d’Edla, como é chamado nos guias turísticos. Em um promontório próximo ao chalé está a Estátua do Guerreiro, obra atribuída a Ernesto Rusconi, de 1848, que supostamente representa esse rei, em traje militar medieval, admirando o que considerava a maior obra de sua vida.

O Palácio da Pena fica aberto das 9h30 às 18:30h e o parque ao seu redor, das 9h às 19h. O ingresso para o parque e o palácio custa € 14,00 para adultos, € 12,50 para jovens entre 6 e 17 anos e maiores de 65 e a entrada é gratuita para menores de 5 anos. Para visitar apenas o parque, o ingresso custa € 7,50 para adultos e € 6,50 para jovens entre 6 e 17 anos e maiores de 65. Existem bilhetes combinados cujo preço depende da quantidade de atrações que você pretenda visitar. Para mais informações, dê uma olhada aqui. Se você estiver de carro, é importante saber que lá não há estacionamento lá encima e que é preciso deixar seu veículo num dos vários estacionamentos da vila de Sintra.


CASTELO DOS MOUROS

Cerca de 850m abaixo, num trajeto que pode ser feito a pé, fica o fascinante Castelo dos Mouros. Construído sobre a cidade antiga, esse castelo do século IX foi tomado dos muçulmanos pelos cristãos chefiados por Afonso Henriques – considerado o primeiro rei de Portugal – em 1147, em sequência à conquista das cidades de Lisboa e Santarém. Com uma vista privilegiada sobre a Costa Atlântica, as várzeas e a Serra de Sintra, esse castelo milenar ocupou uma posição estratégica fundamental para os mouros na defesa do território local e dos acessos marítimos à cidade de Lisboa. Descobertas realizadas entre 2009 e 2012 indicam que entre as muralhas e ao seu redor existia um povoado, atualmente denominado pelos pesquisadores como Bairro Islâmico.

Com a fixação das populações cristãs no Castelo dos Mouros, o Bairro Islâmico foi desaparecendo e deu lugar a uma vila medieval, cuja ocupação se estendeu até o século XV, época em que foi sendo progressivamente abandonada, já que com o fim dos conflitos entre mouros e cristãos as populações não necessitavam mais se abrigar junto à fortificação.

D. Fernando II, afinado com o espírito romântico da época, levou a cabo obras de restauração no castelo, reavivando o imaginário medieval que envolve o local. Essas obras danificaram parte do cemitério cristão da Igreja de São Pedro de Canaferrim, construída entre as duas cinturas de muralhas do castelo, uma das primeiras medidas do rei D. Afonso Henriques. Por esse motivo, foi mandado construir um túmulo para sepultar as ossadas encontradas. Por não se saber se se tratavam de restos cristãos ou muçulmanos, nela foi feita a inscrição: “O que o homem juntou, só Deus poderá separar”.

Atualmente, funciona na Igreja de São Pedro de Canaferrim o Centro de Interpretação do Castelo dos Mouros, contando a história dos povos que ali se sucederam e complementaram, desde o Neolítico até à Idade Média, através de achados arqueológicos e de múltiplas ferramentas interativas.

Entre as atrações do castelo, a que me pareceu a mais curiosa foi a Porta da Traição. Elemento comum às fortalezas medievais, essa “saída secreta”, construída para ser usada principalmente como rota de fuga, acabava sendo também um ponto fraco do cinturão amuralhado do Castelo dos Mouros, pois poderia permitir o ingresso do inimigo no castelo, razão pela qual recebeu essa dominação.

O Castelo dos Mouros fica aberto das 9h00 às 18:30h. O ingresso custa € 8,00 para adultos, € 6,50 para jovens entre 6 e 17 anos e maiores de 65 e a entrada é gratuita para menores de 5 anos. Para visitar apenas o parque, o ingresso custa € 7,50 para adultos e € 6,50 para jovens entre 6 e 17 anos e maiores de 65.


PALÁCIO NACIONAL DE SINTRA

O Paço de Sintra é mencionado pela primeira vez pelo geógrafo Al-Bakrî, no século X, junto com o Castelo dos Mouros, logo após de os exércitos de D. Afonso Henriques terem conquistado Lisboa, em 1147, e obtido a rendição dos almorávidas (dinastia berbere que reinou sobre o Marrocos, o Magrebe ocidental e parte da Espanha, de 1055 a 1147) instalados em Sintra. No chamado Chão da Oliva, onde atualmente está localizado o palácio, situava-se, provavelmente, a residência dos governadores mouros.

Praticamente todos os reis e rainhas de Portugal em algum momento viveram nesse palácio, também denominado Palácio Nacional de Sintra, por períodos mais ou menos prolongados, deixando lá sua marca e a memória das suas vivências. Ao longo do tempo, essa construção foi tomando diferentes formas e incorporando as tendências artísticas das várias épocas, apresentando, hoje, vários estilos arquitetônicos, dos quais se destacam os elementos góticos e manuelinos. É, também fortemente marcado pelo gosto mudéjar – simbiose entre a arte cristã e a arte muçulmana – patente nos exuberantes revestimentos azulejares hispano-mouriscos. A atual aparência do edifício é essencialmente o resultado de obras ocorridas nos reinados de D. Dinis (1279-1325), D. João I (1385-1433), D. Manuel I (1495-1521) e D. João III (1521-1557).

O grande terremoto de 1755, já bastante conhecido de quem tem me acompanhado até aqui, afetou severamente o edifício. O palácio foi reconstruído, mas foi mantida a silhueta que já tinha desde meados do século XVI e que conserva até hoje.

Com o fim do Antigo Regime e a implementação de uma Monarquia Constitucional em 1822, o Paço de Sintra foi adaptado para uma família real que deixou de ser o centro de decisão política. A utilização tornou-se mais doméstica e próxima dos modelos atuais.

A revolução de 1910, que extinguiu a monarquia em Portugal e proclamou a República, pôs fim à utilização do Paço de Sintra como residência real, sendo a rainha D. Maria Pia (1847-1911), viúva do rei D. Luís (1838-1889), a última monarca a habitar o Palácio, do qual partiu para o exílio. Nesse mesmo ano, o Palácio Nacional de Sintra foi declarado Monumento Nacional. No entanto, foi somente no final da década de 1930 que o Palácio foi aberto ao público de forma sistemática e com preocupações de ordem museológica.

Nos últimos anos, o Paço de Sintra se tornou um dos mais importantes polos culturais de Sintra. Nele têm sido realizadas várias obras de conservação, sendo a mais recente o trabalho de restauração integral do Jardim da Preta, que pode ser visitado gratuitamente. Além disso, um novo projeto de exposição e museológico integrou no circuito de visita oito novos espaços e cerca de 100 novos bens móveis, entre mobiliário e obras de pintura e de artes decorativas, que até agora eram inacessíveis aos visitantes.


Sala de Entrada

No palácio, proponho o roteiro a seguir. Vamos começar pelo começo, a Sala de Entrada. Essa sala liga dois paços (palácios) reais: à esquerda, o paço construído durante o reinado de D. João I e à direita, o paço edificado durante o reinado de D. Manuel I. Até o século XVI, essa divisão era um eirado – uma área a céu aberto.


Sala dos Archeiros

Sua extensão, a Sala dos Archeiros, era por onde se cruzavam os reis e a nobreza com os embaixadores estrangeiros, com as autoridades locais, com os serviçais, com a população desfavorecida e os escravos, os burocratas e os diversos visitantes. Para aceder ao Paço, era necessário cruzar a Sala dos Archeiros, onde estavam de sentinela os guardas cerimoniais conhecidos por carregarem alabardas ou archas – um tipo de arma antiga que se tornou símbolo de distinção. Até o século XVI, esse salão era uma varanda coberta que antecedia a Sala Grande do palácio.


Sala dos Cisnes

Da Sala dos Archeiros chegamos à Sala dos Cisnes, a primitiva Sala Grande do Paço de D. João I e D. Filipa de Lencastre. Durante o reinado de D. Manuel, esse salão foi designado como Sala dos Infantes. Datam dessa época o revestimento de azulejos e a estrutura do teto, Até o século XIX, era nessa sala que se reuniam os cortesãos e onde eram realizados os banquetes, saraus musicais, recepções públicas, festas religiosas e cerimônias fúnebres. O terremoto de 1755 destruiu parte das paredes e do teto, que foram reconstruídos pouco tempo depois.


Sala das Pegas

O espaço seguinte é a Sala das Pegas, espaço usado pelos reis para receber convidados importantes e embaixadores estrangeiros. O destaque nesse salão fica para os azulejos do teto, do século XV, que dão nome à sala. Esses azulejos retratam 136 pegas (aves da família dos corvos), que trazem no bico uma tarja com a divisa de D. João I (“Por bem”) e têm uma rosa nas patas – uma alusão à Casa de Lencastre, família da rainha-consorte de D. João I.

Foto: Gerard Decq, 2019


Câmara do Ouro

Nosso próximo passo é a chamada Câmara do Ouro ou Sala do Ouro, uma sala do início do século XV, que perto do final do século XVI foi o quarto de dormir do rei D. Sebastião (1554-1578), sobre o qual já falei na minha primeira postagem sobre o Marrocos. O objeto de destaque nesse cômodo é uma cama em ébano de dimensões pouco comuns e ornamentada com pinturas sobre cobre. É possível notar que esse móvel sofreu várias adaptações ao longo do tempo e que certamente é posterior à morte desse rei. O revestimento da sala, de azulejos do início do século XVI, é único, tendo como motivo cachos de uva em alto-relevo do início, provavelmente já confeccionados em uma oficina de Lisboa.


Sala das Sereias

Depois da Sala do Ouro, entramos no Guarda-Roupa, também chamado de Sala das Sereias, em função da decoração do teto. Nesse espaço eram guardados bens importantes para o rei e a rainha, como joias, roupas e objetos mais preciosos, que geralmente eram acomodados em grandes baús ou arcas.


Sala das Galés

Da Sala das Sereias atravessamos uma pequena sala – ao que tudo indica, uma continuação do Guarda-Roupa –, a Sala da Coroa, o Pátio de Diana e chegamos à chamada Sala das Galés, espaço que tudo indica ter sido uma sala palatina – dependência de formato alongado, muitas vezes com vistas deslumbrantes, que tinha como função, no século XVI, por um lado, propiciar ao morador um espaço para caminhar e desfrutar da paisagem exterior e, por outro, estimular o diálogo intelectual, entre um mestre e um discípulo. Na Europa há muitos exemplos de galerias palatinas, como a Galeria degli Uffici, em Florença, a Galeria de Francisco I, em Fontainebleau, ou a Sala das Batalhas no Mosteiro de São Lourenço do Escorial, nos arredores de Madrid, por exemplo.

Construída por volta de 1534, durante o reinado de D. João III, essa sala tinha como função conectar os aposentos principais, do lado sul do palácio, com a ala noroeste. Recentemente, pesquisas arqueológicas e em documentos históricos concluíram que a Sala das Galés é a primeira galeria palatina do século XVI a ser identificada em Portugal. Com o objetivo de recuperar a função original deste espaço – já alterado várias vezes e desprovido da sua decoração primitiva – uma nova abordagem museológica procura revalorizar esse salão como espaço representativo do Humanismo em Portugal, promovendo um debate intelectual inspirado no passado histórico do Paço de Sintra e na sua condição de edifício híbrido, marcado pela estética mudéjar, que traz à memória episódios tanto de intercâmbio cultural como de conflito.

De seu acervo atual, vale destacar o variado conjunto de objetos produzidos em territórios já cristianizados, mas com influências muito diversas. Destacam-se, por exemplo, um conjunto de 63 pratos de reflexo metálico, de produção valenciana (séculos XV-XVIII) e uma seleção criteriosa de 86 azulejos, alguns dos quais expostos pela primeira vez, bem como contadores indo-portugueses, louceiros com madeira tropical e porcelanas sino-europeias. Vale destacar também retratos, arcas de enxoval passadas de geração em geração, insígnias e contadores para guardar escrituras de propriedade.

Foto: Dguendel, 2017


Jardim do Príncipe

Em seguida, da Sala das Galés, vale a pena um pequeno passeio pelo Jardim do Príncipe e pelo Pátio dos Tanquinhos, de onde se pode avistar o mar, antes de atravessar as sete Câmaras do Paço de D. João III. As câmaras estão distribuídas em dois pisos, ligados por uma escada caracol construída no século XVIII, o que faz crer que antes disso o acesso às câmaras do piso superior se dava pelo Corredor dos Brasões, mais à frente.


Sala dos Brasões

Ao final do Corredor dos Brasões está um dos espaços mais famosos do palácio: a Sala dos Brasões, um espaço quadrado, com cerca de 12m de lado, que ocupa todo o piso nobre da torre construída por D. Manuel I. Sua cúpula, de base octogonal, construída em 1517-1518, contém brasões de 72 famílias nobres de Portugal, com as armas reais no topo. Outra maravilhosa atração desse salão são as paredes, que no século XVIII foram revestidas com azulejos com cenas galantes.


Câmara de D. Afonso VI

Depois de contemplar a Sala dos Brasões – eu levei aí pelo menos uns 30 minutos –, minha sugestão é seguir o estreito corredor que leva até a Escada do Paço de D. Dinis, que dá acesso ao piso superior, não incluído na visita. À direita desse pequeno vestíbulo fica a Câmara de D. Afonso VI (1643-1683). Física e mentalmente debilitado, deu margem a que seu irmão mais novo, Pedro, Duque de Beja, conspirasse para declará-lo incapaz, em 1668, tornando-se regente do reino. D. Afonso foi preso e exilado na Ilha Terceira, no Arquipélago dos Açores, onde fico até 1674, quando foi para o Paço de Sintra, passando a ocupar esse quarto até sua morte.

Cômodo pequeno e simples, não tem nenhum atrativo especial além de sua importância histórica, a não ser pelo piso de cerâmica, afixado nessa câmara entre 1430 e 1440, sendo, portanto, um dos mais antigos do palácio.


Sala das Loiças

Saindo da Câmara de D. Afonso VI, você atravessa uma sala (segundo os historiadores, provavelmente, a Sala Grande do Paço de D. Dinis (século XIII), e chega à chamada Sala das Loiças. Não se sabe qual era a função original desse espaço, construído provavelmente no século XV. No século XX passou a servir como local onde eram guardadas as louças e talheres da Casa Real portuguesa. Atualmente, podem ser vistos nessa sala os armários e utensílios de jantar da rainha D. Maria Pia (1847-1911).


Capela Palatina

De lá, passamos pela Sala dos Cofres e chegamos à Capela Palatina, uma construção original da época do reinado de D. Dinis e D. Isabel de Aragão (século XIII), mas alterada e aumentada durante o reinado de D. Afonso V (1432-1481). Seu teto mudéjar é um dos melhores exemplos preservados em Portugal. Já a decoração das paredes, foi profundamente alterada nos séculos XVIII e XIX, mas recuperada no século XX a partir dos fragmentos encontrados.


Sala dos Árabes

Da Capela Palatina, a atração seguinte é a Sala dos Árabes. Essa sala parece ter sido a antecâmara do quarto de dormir do rei D. João I. Ela se comunica diretamente com o Pátio Central através de uma escada caracol. Os famosos azulejos mudéjares e a fonte em estilo árabe foram instaladas no reinado de D. Manuel I.


Sala do Leito de Aparato

O cômodo seguinte é a Sala do Leito de Aparato. Parcialmente destruída em 1755, essa sala era coberta por um terraço que se comunicava com o Pátio da Capela, ao lado. No início do século XX, ela servia como sala de jantar dos serviçais da rainha D. Maria Pia.

Atualmente, a cama com dossel exposta nesse espaço foi fabricada no século XVII, tendo pertencido aos Duques de Cadaval.


Cozinha

Saindo da Sala do Leito de Aparato, nosso destino agora é a imensa Cozinha do palácio, construída por D. João I para servir todo o palácio. Seu tamanho exagerado se justifica pelas várias centenas de pessoas que compunham a corte. Sendo Sintra um território de caçadas reais, esse era o local onde a caça era preparada para banquetes.

Outra característica da cozinha que se tornou uma das principais atrações do Palácio Nacional – e que pode ser admirada tanto por dentro quanto já a centenas de metros de distância – são suas duas chaminés, de 33m de altura, que acabaram se tornando um símbolo de Sintra.


Sala Manuelina

Da cozinha, um vestíbulo leva até a Sala Manuelina. Denominada Sala Grande durante o reinado de D. Manuel I, esse espaço foi posteriormente dividido com biombos e se transformou no quarto rei D. Luís. Na década de 1930, a área original da sala foi reconstituída pelos técnicos do Patrimônio. Chegou a se projetar decorar o teto com imagens alusivas a navegadores portugueses dos séculos XV e XVI, mas o projeto não saiu do papel.


Aposentos de D. Maria Pia

Em seguida, o visitante vai passar por uma sucessão de cômodos denominados, genericamente, de Aposentos de D. Maria Pia, dos quais o que talvez chame maior atenção é o Quarto do Retrete, pequeno espaço reservado onde ficam um vaso sanitário e um bidê em cerâmica. As paredes são revestidas com mármore aparente e o chão, coberto com o único fragmento de alcatifa (tapete) que sobreviveu de uma peça que cobria todos os demais aposentos da rainha;

Esse espaço é contíguo ao Quarto de Toilette, bem maior, com pia, mesa e espelho – tudo no estilo rococó –, era onde a rainha D. Maria Pia se vestia, se penteava, se maquiava e se perfumava.


Gruta dos Banhos

Depois de atravessar a sequência de espaços dedicados aos aposentos da rainha D. Maria Pia, chegamos à Gruta dos Banhos, recanto protegido do sol que permite desfrutar da tranquilidade do Pátio Central. Os jatos d’água que jorram de minúsculos orifícios nas paredes azulejadas dão a ela uma dimensão lúdica e quase irresistível. Construída em algum momento entre o final do século XV e o início do século XVI, essa gruta foi redecorada no século XVIII.


Pátio Central

O Pátio Central, que passou por um processo de restauração em 2018, permite circular entre as várias divisões do Paço de D. João I e o Paço de D. Filipa, sem que seja preciso cruzar todo o interior. No centro dele existe um chafariz em forma de coluna retorcida do século XVI, em cujo topo figuras sustentam as armas e brasões de Portugal.


Jardim da Preta

Nosso tour termina no Jardim da Preta, recentemente restaurando e que a partir de maio de 2020 passou a permitir o acesso gratuito. Mirante natural sobre a Serra de Sintra e o centro histórico, tem esse nome devido à figura de uma lavadeira negra pintada junto a um de seus dois tanques de água, que dá nome ao jardim.


O Palácio Nacional de Sintra também fica aberto das 9h30 às 18:30h. O ingresso custa € 10,00 para adultos, € 8,50 para jovens entre 6 e 17 anos e maiores de 65 e a entrada é gratuita para menores de 5 anos.

Fechamos o primeiro dia em Sintra. Como disse no começo, a vila está muito perto de Lisboa e se a capital portuguesa for a sua base, é tranquilamente possível você voltar para o seu hotel, pousada ou acomodação alugada e fazer novo bate-e-volta na manhã seguinte para continuar conhecendo as belezas dessa linda cidade. Ou não. Durma em Sintra, tome um bom café da manhã no seu hotel – ou numa das opções espalhadas pelo centro histórico – e depois venha comigo para a segunda parte deste passeio.





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