Tomar é uma pequena cidade na região central de Portugal, a cerca de 140 km ao norte de Lisboa e pouco mais de 78 km ao sul de Coimbra. Com pouco mais de 20 mil habitantes, Tomar passaria despercebida, não fosse sua importância histórica e cultural. Por isso, atualmente o turismo é a atividade econômica mais importante da cidade, principalmente em função do Convento de Cristo, elevado pela UNESCO, em 1983, à condição de Patrimônio Mundial.
Mas além do convento existem outras atrações turísticas imperdíveis que você, mesmo que só tenha um dia, pode conhecer num bate-e-volta saindo de Lisboa. Vale a pena conhecer, por exemplo, a Igreja de São João Batista, a Igreja de Santa Maria dos Olivais (onde estão os restos mortais de Gualdim Pais, grão-mestre templário e fundador da cidade) e a Ermida de Nossa Senhora da Conceição, que foi construída com a função de panteão régio para o rei D. João III, O Piedoso (1502-1557), filho mais velho de D. Manuel I, O Venturoso, e responsável pela colonização efetiva do Brasil, através da criação das capitanias hereditárias e do governo-geral. Outras atrações são o Convento de São Francisco, que tem uma capela maneirista, o Convento de Santa Iria e a Ermida de São Gregório, de estrutura arquitetônica circular.
Minha passagem por Tomar foi meteórica e é bem provável que volte a essa bonita e aconchegante cidade com mais calma. Mas reafirmo que é possível fazer um belo passeio pela cidade, mesmo se você tiver apenas um dia. Minha estada, na verdade, começou com um pernoite, pelo sistema Airbnb, na Rua Miguel Maria Ferreira, bem em frente ao simpático Jardim Escola João de Deus, a cerca de 500m do Rio Nabão, que corta a cidade praticamente ao meio.
No dia seguinte, depois de um café reforçado, embora o destino óbvio fosse o Convento de Cristo, no trajeto havia algumas atrações incontornáveis. Dobrando à direita, na Alameda Um de Março, no lado moderno da cidade, chagamos à Rua Marquês de Pombal, antiga Rua Larga, uma espécie de corredor principal de acesso ao núcleo histórico da cidade, na margem ocidental do Rio Nabão. A Marquês de Pombal funciona também como uma espécie de túnel do tempo, já que vamos deixando pra trás a cidade dos séculos XX e XXI à medida que cruzamos por construções dos séculos XV a XIX dos dois lados dessa alameda de cerca de 250m.
Acima, a Alameda 1 de Março e, abaixo, a Rua Marquês de Pombal
A Rua Marquês de Pombal, por sua vez, dá acesso à Rua Serpa Pinto, assim que atravessamos a Ponte Velha, sobre o Rio Nabão. Desde pelo menos o século XII até 1890, a Rua Serpa Pinto era chamada de A Corredoura. Na toponímia portuguesa, a palavra significa lugar de passagem relativamente largo que dá acesso a locais preferenciais. Existe também uma forte tradição em Tomar que diz que essa rua era o local onde os cavaleiros templários experimentavam seus cavalos e praticavam os jogos preparativos para a guerra. É interessante registrar que, apesar de já terem se passado mais de 130 anos desde que a Câmara (equivalente à Prefeitura no Brasil) decretou a alteração do nome, a população continua a chamar a Serpa Pinto de Corredoura. Assim como também continua a chamar a Marquês de Pombal de Rua Larga.
Outro fato de destaque é que, assim como acontecia na época medieval, quando a Corredoura era de central importância para Tomar por ser o caminho que os cavaleiros percorriam para chegar ao Castelo de Tomar, a atual Serpa Pinto está entre os mais importantes pontos da cidade, agora como corredor comercial. Atualmente uma rua de pedestres, ela fica bem no coração do Centro Histórico e abriga todo o tipo de comércio, com lojas, restaurantes de comida regional, cafés, hotéis e pousadas etc.
Ponte Velha, sobre o Rio Nabão, ao final da Rua Marquês de Pombal e, abaixo, a Rua Serpa Pinto
Um dos locais mais emblemáticos dessa rua é o famoso Café Paraíso, um elegante café centenário onde você pode sentir o clima de parte da história de Tomar. Fundado em 1911, o Café Paraíso se tornou o ponto de encontro de personagens ilustres da época e fonte de inspiração para escritores e artistas. Também vale a pena fazer uma visita à Confeitaria Estrelas de Tomar, o local certo para experimentar alguns dos melhores doces típicos da cidade, como as irresistíveis “fatias de Tomar”, os “queijinhos de Tomar” e o “Beija-me Depressa”.
Imperdível também é o Café Santa Iria, fundado na década de 1970 no edifício do antigo Convento de Santa Iria, construído no então centro da cidade templária. Além de oferecer um amplo cardápio e variado cardápio de doces e salgados, uma extensa lista de sanduíches e baguetes, quiches, saladas e vários tipos de torradas, Café Santa Iria também é muito famoso por oferecer uma bebida típica de Tomar, conhecida como Mouchão dos Templários ou Segredo do Vigário. Inventada por Francisco Gonçalves Vicar, é, sem dúvida, a bebida mais popular de Tomar. A ideia, segundo a tradição familiar, era criar algo que juntasse a poesia do vinho com a frescura da cerveja e que tivesse um sabor exótico e leve.
Para os mais curiosos (como eu), mouchão, no português de Portugal, é uma uma palavra usada para designar uma ilhota fluvial onde cresce alguma vegetação endógena. Mas não me perguntem o porquê de a bebida ter este nome...
Deixando pra trás a Serpa Pinto, chegamos à Praça da República, de cerca de 300m², onde ficam alguns pontos de maior interesse da cidade. No lado oeste fica o edifício dos Paços do Concelho (ou Câmara Municipal) –que equivale a uma junção do que aqui no Brasil seriam a Prefeitura e a Câmara dos Vereadores. O edifício foi construído no começo do século XVI, durante o reinado de D. Manuel I, com a função de Paços Reais, isto é, a sede local do governo nos tempos da monarquia. Antes da sua construção, na época do Infante D. Henrique, nesse lugar existia um largo onde acontecia uma feira livre. Os especialistas em arquitetura chamam a atenção para o fato de que, embora tenha sido construído por ordem D. Manuel I, o edifício hoje em dia não apresenta nenhuma das características do estilo arquitetônico chamado de manuelino. Isso acontece porque na segunda metade do século XVI o prédio sofreu uma grande remodelação que seguia o novo estilo então na moda, conhecido como maneirismo. No entanto, quem, como eu, gosta de observar todos os detalhes de uma construção histórica, ainda vai encontrar na construção os símbolos reais do rei D. Manuel, como o Brasão Real, a Esfera Armilar e a Cruz de Cristo. No interior do edifício, vale a pena destacar a sala de exposições e o salão nobre, cujo teto ostenta um brasão antigo da cidade.
No lado leste fica a Igreja de São João Batista. Não se sabe ao certo quando foi construída a igreja primitiva, mas acredita-se que tenha sido D. Gualdim Pais, ainda no século XII, quem tenha ordenado sua construção, ao mesmo tempo em que era construído o Castelo dos Templários. Em 1430 foi iniciada uma reconstrução dessa igreja, sob o comando de D. Henrique, mas foi na época de D. Manuel I, em 1467, que começaram as obras que deram à Igreja de São João Batista suas características atuais, em estilo gótico tardio, concluídas no início do século XVI. Ela é uma construção retangular, com portais decorados ao estilo manuelino, estruturada em três naves e com uma torre do sino que até hoje sustenta um relógio do século XVI. Assim como no edifício dos Paços do Concelho, a igreja também apresenta os símbolos de D. Manuel I, tanto na torre e no púlpito quanto nos portais oeste e norte. No interior dela, o destaque fica para os capitéis decorados das colunas da nave e para os vários painéis pintados por Gregório Lopes (cerca de 1530), um dos melhores artistas renascentistas portugueses, pintor dos reis D. Manuel e D. João III. Outro destaque é o batistério, na base da torre, onde existe um tríptico sobre a vida de Cristo, atribuído à escola do pintor flamengo Quentin de Metzys, do princípio do século XVI.
No lado sul fica o Palácio D. Maria da Silveira, uma construção ao estilo maneirista com longas fachadas, em que toda a carga decorativa está concentrada na fachada principal. O palácio pertenceu a D. João de Sousa Silveira, que foi alcaide-mor (cargo antigamente semelhante ao de prefeito) de Tomar. Tempos depois, passou para as mãos dos Serviços Municipalizados (água, esgoto e limpeza urbana), tendo sido posteriormente adquiridos pela família Alves Casquilho. Destaco nessa construção a cornija e cimalha com gárgulas em forma de cabeça de peixe e cabeça de porco.
Finalmente, no centro da praça fica estátua do mestre templário D. Gualdim Pais (1118-1195), o fundador da cidade. Nascido em Amares, na região de Braga, ao norte do país, ele foi escudeiro de D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, e combateu ao lado dele contra os mouros, vindo a ser ordenado cavaleiro pelo rei no campo de batalha de Ourique, em 1139. Depois, ele se tornou cruzado e freire templário, partindo para a Palestina, onde lutou durante cinco anos. Quando voltou, em 1157, ele foi nomeado Procurador do Templo em Portugal, tendo sido seu quarto Mestre desde que essa ordem religiosa se estabeleceu em Soure, em 1128.
Do centro, subimos até o complexo do Castelo dos Templários/Convento de Cristo. É possível fazer o percurso a pé em cerca de 9 minutos ou de carro, em pouco mais de 3 minutos. Mas, na minha opinião, a opção mais charmosa são os tuk tuks da Tuk Lovers (http://www.tuklovers.com/).
Construído ao longo de centenas de anos por alguns dos mais importantes mestres e arquitetos medievais a trabalharem em território nacional (Diogo de Arruda, João de Castilho e Diogo de Torralva, entre tantos outros), este conjunto arquitetônico inclui edificações diversificadas, quase todas de grande relevância patrimonial. Além do castelo, são imperdíveis a charola templária, os claustros quatrocentistas, a igreja manuelina e o convento renascentista. Sua atual configuração reflete suas sucessivas funções e as características arquitetônicas dos períodos históricos em que foi construído. Nele podemos encontrar elementos tipicamente românicos, góticos, manuelinos, renascentistas, maneiristas e do chamado estilo chão.
O Convento de Cristo tem uma longa história, tendo sido construído em várias etapas entre o século XII e o século XVIII. Trata-se na verdade, de um conjunto de construções cujo início remonta ao ano de 1160 e está intimamente ligado ao começo do reino de Portugal e ao papel da Ordem dos Templários nesse processo. Esse conjunto arquitetônico, na verdade, começou com o Castelo dos Templários, fundado por D. Gualdim Pais em 1160, durante o reinado de D. Afonso Henriques, considerado o primeiro rei de Portugal. O castelo marcava a fronteira entre os reinos cristãos da época, na tentativa de segurar o avanço mouro na Península Ibérica.
Ainda hoje o castelo conserva memórias do tempo desses monges cavaleiros empenhados na reconquista, por parte dos reinos cristãos da península, dos territórios sob o domínio muçulmano conhecido como al-Andalus, processo só concluído em 1492, com a conquista do Emirado de Granada, a sudeste da atual Espanha. O complexo abrangia a cidadela murada, o pátio e a casa militar situada entre a Casa do Mestre, a Alcáçova (fortaleza) e o oratório dos cavaleiros (também conhecido como Rotunda ou Charola).
Mas a Charola é apenas uma pequena parte do conjunto arquitetônico do Convento de Cristo, que abrange também o antigo Castelo dos Templários. Vale a pena percorrer o convento com calma e atenção. A cada corredor, curva, galeria ou sala você vai descobrindo preciosidades, como as representações no portal renascentista, a particular simbologia da Janela Manuelina da Sala do Capítulo, os detalhes da arquitetura do Claustro Principal e os espaços dedicados aos rituais dos templários.
Foto de Jaimrsilva (2015)
Janela Manuelina, desenhada provavelmente por Diogo de Arruda e executada entre 1510 e 1513 e, abaixo, em sequência, imagens do Claustro
Em 1357, quarenta e cinco anos depois da extinção da Ordem dos Templários, o castelo passou a ser a sede da Ordem de Cristo, criada para substituí-la, durante o reinado de D. Dinis. Fazem também parte do conjunto vários outros acréscimos, como a igreja manuelina adjacente à charola, o convento renascentista, a Ermida de Nossa Senhora da Conceição e o Aqueduto dos Pegões além da cerca conventual (ou Mata dos Sete Montes), abaixo. Todo esse conjunto envolveu um dispendioso investimento, tanto em recursos materiais quanto em trabalho humano, ao longo de várias gerações. É importante dizer que, além de espaço cultural e turístico, o complexo ainda permanece como lugar de devoção católica.
Para os apaixonados por história, como é explicitamente o meu caso, é importante dizer que em 1420, quando o Infante D. Henrique é nomeado governador e administrador da Ordem de Cristo, o governo da Ordem passa a ser atribuição da família real portuguesa. A partir de então a Ordem é reconfigurada, sem desvirtuar seu espírito original, de cavalaria e de cruzada, mas torna-se voltada para um novo objetivo, a expansão marítima, que a própria Ordem passa a financiar. Sob a direção de D. Henrique, os cavaleiros vão se transformando em navegantes, ao mesmo tempo em que muitos navegantes se tornam cavaleiros da Ordem de Cristo. É também durante o governo de D. Henrique que a ordem passa a admitir religiosos com características contemplativas, passando a coexistir com os freires-cavaleiros. A casa militar, então, é transformada em convento, são construídos dois claustros e a Alcáçova é adaptada para se transformar na casa senhorial do Infante.
Durante o reinado de D. Manuel I (1495-1521), a Ordem passa a se envolver profundamente com a aventura dos descobrimentos, passando a deter um imenso poderio, espalhado por todo o império português. O convento sofre importantes obras de reforma e ampliação, afinadas com o espírito do reinado desse monarca. A Charola é ampliada no sentido oeste, com a construção extramuros de uma imponente igreja/coro e sacristia (iniciada por Diogo de Arruda e terminada por João de Castilho), onde é posto em prática o estilo decorativo conhecido como manuelino.
Mais ainda do que D. Manuel, D. João III irá centrar em Tomar muitas das suas iniciativas, com o objetivo de tornar essa cidade uma espécie de “capital espiritual” do reino, onde desejaria ser sepultado. Alguns historiadores acreditam que esse foi o motivo da construção da pequena Ermida de N. S. da Conceição. A partir de 1529 ele ordena uma profunda reforma da Ordem de Cristo e a construção de um novo espaço conventual de grandes dimensões. A nova edificação segue a oeste do castelo e da nave manuelina.
Acima, bula Eximia Devotionis Affectus, do papa Adriano VI, de 19/03/1522, transferindo ao rei D. João III o Mestrado da Ordem de Cristo, em função da morte do rei D. Manuel. Abaixo, o instrumento público de posse da governança e administração da Ordem de Cristo pelo rei D. João III, de 23/07/1523
O complexo adquire uma importância tão grande que é no pátio da igreja do Convento de Cristo que acontecem as Cortes de 1581, que instituíram a União Ibérica, onde também D. Filipe I (Felipe II da Espanha) é aclamado rei de Portugal. Na condição de herdeiro do trono português, Filipe I torna-se também mestre da Ordem de Cristo. A construção do convento se estende do seu reinado aos dos seus sucessores, com a conclusão do claustro de D. João III, a construção da Sacristia Nova e, a sul, do aqueduto, além de várias outras modificações e acréscimos.
Durante os séculos seguintes várias outras modificações foram realizadas no complexo, principalmente a partir de 1834, quando as ordens religiosas em Portugal foram extintas e a maior parte dos bens da Ordem de Cristo foi expropriada e vendida em leilão. Somente nas últimas décadas século XX o Estado português reassume a plena posse desse complexo histórico, para adaptá-lo a funções culturais e turísticas.
Do meu ponto de vista, o Castelo de Tomar é uma experiência única, um daqueles lugares nos quais vale a pena prestar a maior atenção a todos os detalhes históricos e arquitetônicos, sem contar a belíssima paisagem do entorno.
O horário de funcionamento entre outubro e maio é das 9:00 às 17:30, com o último aceso às 17h, e de junho a setembro, das 9:00 às 18:30, com a última entrada às 18h. Não abre nos dias 1º de janeiro, Domingo de Páscoa, 1º de Maio e Natal. Os ingressos custam € 6,00 e crianças até 12 anos não pagam. No primeiro domingo de cada mês a entrada é gratuita. Além disso, a entrada também é gratuita para os residentes em Portugal todos os domingos e feriados até as 14h.
Voltando à parte baixa da cidade, outra atração imperdível são a Sinagoga, que fica na Rua Dr. Joaquim Jacinto, e a Antiga Judiaria, no centro histórico. Tomar era um dos locais em que, na Idade Média, judeus provenientes de muitas partes da Europa eram bem-vindos, o que pode ser comprovado por sua majestosa sinagoga, construída entre 1430 e 1460, quando a comunidade judia forte que ali se instalaria começou a chegar, formando o bairro que seria conhecido como Judiaria. A paz dessa comunidade já seria ameaçada em 1496, quando o rei Manuel I obrigou judeus a deixar Portugal ou converter-se ao cristianismo. A sinagoga foi, então, vendida e transformada em prisão, operando assim até meados do século XVI, virando uma capela cristã no começo do século XVII. A partir do século XIX, o edifício seria usado como celeiro e armazém, até ser comprado por Samuel Schwarz, em 1923. Em 1939, foi doado ao Estado e transformado em um Museu Luso-Hebraico. Vale a pena conhecer! Horário de Funcionamento: de outubro a abril, das 10h às 13h e das 14h às 18h. De maio a setembro, 10h às 13h e das 15h às 19h. Encerra: segundas-feiras, 1º de janeiro, 1º de maio e 25 de dezembro. A entrada é gratuita.
Outra atração combinada que pode ser interessante, se você tiver tempo, é o Museu dos Fósforos Aquiles da Mota Lima, um dos espaços mais originais de Tomar, que fica no Convento de São Francisco, na Av. Gen. Bernardo Faria, na Várzea Grande, a cerca de 500m na direção sul em relação à Praça da República.
O Convento foi fundado em 1624 por frades franciscanos oriundos da comunidade religiosa de Santa Cita. Construído por ordem do rei Filipe III, é um templo de estilo maneirista, construído em torno de dois claustros. Já a Igreja de São Francisco começou a ser construída em 1628, tendo sido concluída em 1660. A igreja tem uma única nave central e conta com uma pintura do tomarense Domingos Vieira Serrão, pintor do século XVI que também foi o responsável pelos murais que cobrem a Charola do Convento de Cristo, assim como em várias capelas e altares do Convento. O Convento de São Francisco tem dois claustros, em um dos quais fica o Museu dos Fósforos.
Após a extinção das ordens religiosas, o Convento de São Francisco passou para o Ministério da Guerra e foi transformado em um batalhão militar. Atualmente, a tutela da Igreja e Convento de São Francisco é partilhada entre a Ordem Terceira de São Francisco, responsáveL pelo espaço do templo, e a Câmara Municipal de Tomar, responsável pela cerca e pelo restante espaço conventual.
Esse museu tem um acervo de mais de 60 mil caixas de fósforo, de todos os tempos, trazidas de mais de 120 países. É o resultado da dedicação de Aquiles da Mota Lima, que durante 27 anos coleccionou mais de 43 mil caixas e carteiras e cerca de 16 mil etiquetas de caixas de fósforos, de 127 países. A coleção, que foi doada ao município de Tomar em 1980, abre um verdadeiro portal para o passado, resgatando aspectos da história, política, literatura, música, arte, ciência, tecnologia, esporte, religião e uma infinidade de outros aspectos da vida humana. A entrada também é gratuita e o museu funciona de terça a domingo, das 10h às 13h e das 15h às18h, ficando fechado somente às segundas-feiras.
ARREDORES
Os arredores de Tomar também têm atrações que vale a pena conhecer, caso você tenha mais tempos. Um exemplo é a Barragem de Castelo de Bode, que é uma das maiores do país, onde é possível fazer um tranquilo cruzeiro com almoço a bordo ou praticar esportes aquáticos. Inaugurada em 1951, essa barragem, que fica a 17,4km de Tomar no sentido sudeste, faz parte do conjunto de barragens da bacia do rio Zêzere, na região do Centro (Região das Beiras) e sub-região do Médio Tejo. Situa-se nos limites dos concelhos de Tomar e Abrantes no distrito de Santarém. Uma das mais altas construções de Portugal, é utilizada para abastecimento de água, principalmente para Lisboa, produção de energia elétrica, defesa contra as cheias e para atividades recreativas. É utilizada para a prático de windsurf, vela, remo, motonáutica e jet ski, e também para a pesca desportiva.
Outra atração incrível é o Castelo de Almourol, que fica numa pequena ilha do Rio Tejo, na localidade de Praia do Ribatejo, município de Vila Nova da Barquinha, a cerca de 30km de Tomar. Erguido sobre uma elevação de granito a 18m acima do nível das águas, numa pequena ilha de 310m de comprimento por 75m de largura, no médio curso do rio Tejo, um pouco abaixo da confluência com o rio Zêzere, à época da chamada Reconquista integrava a chamada Linha do Tejo, atual Região de Turismo dos Templários. Constitui um dos exemplos mais representativos da arquitetura militar da época, nos remetendo, ao mesmo tempo, às origens do reino de Portugal e à Ordem dos Templários. Com a extinção da Ordem do Temploem 1311, por ordem do papa Clemente V, durante o reinado de D. Dinis (1279-1325), o Castelo de Almourol passou a integrar o patrimônio da Ordem de Cristo (sucessora, em Portugal, da Ordem dos Templários, como eu já mencionei antes).
Embora não haja consenso sobre o unício da ocupação humana dessa ilhota, existindo registros de várias camadas de distintos vestígios culturais no tempo, sabe-se que a partir do século VIII ela foi ocupada pelos muçulmanos e que no século XIII a fortificação já existia, que eles chamavam de Al-morolan (pedra alta).
Na época da Reconquista cristã da Península Ibérica, quando essa região foi ocupada por forças portuguesas, Almourol foi conquistado em 1129 pelo rei D. Afonso Henriques (1112-1185), que o entregou aos cavaleiros da Ordem dos Templários, que foram encarregados do povoamento do território entre o rio Mondego e o Tejo e da defesa de Coimbra, então a capital de Portugal. Nessa fase, o castelo foi reconstruído, tendo adquirido, em linhas gerais, as suas atuais características.
Vítima do terremoto de 1755, sobre o qual eu já falei aqui, a estrutura foi danificada, vindo a sofrer mais alterações. Nessa fase, e obedecendo à filosofia então corrente de valorizar as obras do passado à luz de uma visão ideal poética, o castelo foi alvo de adulterações de índole decorativa. Na segunda metade do século XIX, ele foi entregue ao Exército português, que tem a sua tutela até os dias atuais.
Concluindo: seja qual for o seu roteiro em Portugal, se ele incluir Lisboa, acho que vale a pena dar uma esticada até Tomar. E, se quiser seguir viagem para explorar mais um pouco esse país encantador, a cidade está cercada de outras atrações tentadoras: o santuário de Fátima, 27km a oeste; a simpática Castelo Branco, Nazaré e suas ondas gigantescas, paraíso do surfe mundial, 77km no mesmo sentido; 123km no sentido nordeste; a encantadora Coimbra, 79km ao norte; Figueira da Foz, cerca de 12okm a noroeste. Minha opção foi por Castelo Branco e, de lá, para Coimbra, sempre de trem, meu transporte favorito. Faça o seu roteiro – mas não deixe Tomar ficar de fora.
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