LAGOS ANDINOS II: PUERTO VARAS
- Alberto Moby Ribeiro da Silva
- 18 de abr de 2021
- 6 min de leitura
Atualizado: 18 de ago
Então. Como eu disse na postagem anterior, os anos se passaram, o casamento acabou, vieram outros e a vida seguiu o fluxo. Pude viajar mais, dentro e fora do Brasil, e conheci lugares e gentes. Inevitavelmente, em minhas rodas de conversa, os amigos, sabendo da minha paixão por viagens e acompanhando, através de fotos, de vídeos ou dos meus relatos (imagino que alguns muito cansativos...) sempre perguntavam a minha opinião sobre que lugar entre as minhas andanças era o mais bonito. Meu primeiro impulso era sempre responder que é a região dos Lagos Andinos.
Só que quanto mais aquela viagem de 1995 ficava pra trás no tempo maior era minha dúvida interior na hora de responder – mesmo a resposta para os amigos sendo invariavelmente a mesma. Até que vinte anos depois, em 2015, uma nova companhia (a mais viajeira das que tive) foi o incentivo para a “expedição científica” para conferir se minha primeira impressão estava correta ou se era apenas uma traição da minha memória afetiva.
Já bem mais experiente, com um pouquinho mais de dinheiro e também com mais tempo, preparei um minucioso roteiro. Começando em Santiago do Chile, em 28 de dezembro de 2015, antes de viajar pela região dos Lagos, fomos à cidadezinha de Peñaflor, onde mora minha amiga Marta Cid, a Valparaíso e Viña del Mar, onde passamos o réveillon, cruzamos a fronteira com a Argentina, onde passamos alguns dias em Mendoza e Maipú, e retornamos à capital Chilena. (Sobre essa parte da viagem conto em outra postagem.)
De Santiago, na noite do dia 10 de janeiro fizemos o trajeto mais longo e mais cansativo da viagem, de Santiago para Puerto Varas, primeira cidade do nosso roteiro pela região dos Lagos Andinos. Tinha uma memória muito vaga dessa cidadezinha graças a uma parada que não deve ter durado mais que dez minutos em minha viagem de 1995, quando vinha de Osorno para Puerto Montt. Essa curtíssima entrada na cidade, no entanto, tinha sido suficiente para me mostrar que Puerto Varas era encantadora. As fotos que vi ao longo desses vinte anos de espera só confirmaram aquela primeira e impressão deixada por minha meteórica passagem por lá.

Mirante na Av Costanera, com o lago Llanquihue e, ao fundo, os vulcões Osorno (esquerda), Calbuco (direita) e Cerro Tronador (centro)
Não me arrependi. Ao contrário, Puerto Varas é uma encantadora e aconchegante cidade que tem como moldura o deslumbrante Lago Llanquihue e o magnífico vulcão Osorno, fazendo com que qualquer foto, tirada de qualquer ângulo, num dia claro, seja digna de cartão postal (quando eles ainda existiam...) ou calendário de parece (outro objeto doméstico cada vez mais raro...).

Anoitecer no lago Llanquihue, com o vulcão Osorno ao fundo
Nessa viagem, que, como disse, começou por Santiago, usei pela primeira vez o serviço de hospedagem do Airbnb. Em Puerto Varas, alugamos um quarto no El Roble Hostal, uma casa super aconchegante, que dividimos com os proprietários e outro casal, de Buenos Aires, Ricardo e Patricia, professores universitários, que se tornaram nossos amigos e que encontramos no ano seguinte na capital argentina. Além do excelente café da manhã e da vista privilegiada do Vulcão Osorno, de bônus osso anfitrião, Martin, nos convidou para uma cantoria que acontecia nas noites de quarta-feira, quando rolou música popular chilena, música argentina e até MPB.

Nosso anfitrião, Martín, e Ricardo, hóspede como eu, num sarau musical no Hostel Los Robles
Além de ter seus próprios encantos, como, por exemplo, a belíssima Igreja do Sagrado Coração de Jesus, Puerto Varas também serviu de base para três bate-voltas: Frutillar, uma florida cidadezinha 28,5 km ao norte, também às margens do Lago Llanquihue e com vista para o espetacular Vulcão Osorno; Valdivia, uma bela cidade universitária cerca de 200 km mais ao norte, passando por Osorno, quase na metade do caminho; e Puerto Montt, 20 km ao sul, de onde esticamos até Castro, cidade principal do arquipélago de Chiloé. De cada um desses pequenos mas intensos passeios trouxemos na memória cheiros, sabores, mas principalmente imagens inesquecíveis.

Puerto Varas: Vulcão Osorno

Puerto Varas: Igreja do Sagrado Coração de Jesus

Frutillar: Márcia, minha mulher, num jardim da Av. Philippi

Frutillar: a belíssima estrutura em madeira do Teatro del Lago

Valdivia: Mercado del Pescado visto do Rio Calle-Calle

Valdivia: barco de turismo cruzando o Rio Calle-Calle

Castro, Ilha de Chiloé: Igreja de São Francisco vista por trás

Castro: Gimnasio Escolar Luis Oribe Díaz
Voltei uma vez mais a Puerto Vargas, em janeiro de 2025 e desta vez conheci outras atrações imperdíveis. Como este blog não pretende ser um guia turístico, mas apenas um conjunto de memórias de um viajeiro, acrescento aqui as que me pareceram mais relevantes.
MUSEO PABLO FIERRO
Começo por um lugar fantástico, o Museo Pablo Fierro. Criado pelo artista plástico que dá nome ao museu, é uma mistura encantadora de casa-museu, galeria de arte e espaço de memória viva.

Fundado e mantido pelo próprio Pablo Fierro, o museu nasceu do desejo de preservar e celebrar a história dos colonos da região, especialmente a influência da imigração alemã e das tradições chilotas (originárias de Chiloé). Fierro construiu e decorou o espaço com objetos antigos, pinturas, móveis e utensílios domésticos que evocam o passado recente da cidade e da vida familiar chilena. O museu é conhecido como um “espaço de memória e sonhos”, onde cada canto conta uma história e cada peça tem um significado afetivo. Dificilmente você sairá de lá sem levar na memória e no coração a imagem de um objeto antigo, provavelmente da sua infância, da casa da vovó ou de uma tia, uma reprodução das aquarelas de Pablo Fierro e, muito provavelmente, dezenas de fotos – e, se tiver sorte, pelo menos uma dela com o próprio artista, arquiteto, curador e proprietário do museu.

Suas características mais marcantes são a fachada excêntrica e cativante, cheia de elementos arquitetônicos e decorativos que chamam atenção dos visitantes desde a rua, seu interior interativo, onde os visitantes são incentivados a tocar os objetos, tornando a experiência sensorial e pessoal, os quadros de Fierro, retratando mansões antigas e paisagens locais com técnicas variadas. Além disso, eu destaco especialmente a atmosfera acolhedora do museu. Fierro costuma estar presente, compartilhando histórias e conversando com os visitantes, o que torna a visita ainda mais especial. Destaco ainda a vista panorâmica, a partir do segundo andar, de onde é possível admirar o lago Llanquihue e o majestoso vulcão Osorno.

A entrada é gratuita, com contribuição voluntária, e o museu abre de terça a domingo, a partir das 11h30. Se você gosta de lugares que misturam arte, história e emoção, o Museo Pablo Fierro é uma parada obrigatória.
PASAJE RICKE
Situada próxima ao centro da cidade, na confluência da Calle Diego Portales com o início da Calle Estación, essa via tranquila está cercada por uma variedade de serviços e atrações que refletem o espírito acolhedor e turístico da região. Ela abriga diversos hostais e pousadas, como o Hostal Vermont e La Guapa Hostel, ideais para viajantes que buscam conforto e proximidade com o centro. A poucos metros estão o Centro Cultural Puerto Varas, o Centro Comercial Santa Rosa e o famoso El Patio de Don Enrique, oferecendo opções culturais e gastronômicas. Como grande parte de Puerto Varas, a região tem forte influência da colonização alemã, visível nas construções e na organização urbana – arquitetura, aliás, retratada em vários quadros de Pablo Fierro.

Pasaje Ricke é ideal para quem deseja explorar Puerto Varas a pé, com fácil acesso à costanera do Lago Llanquihue e vistas deslumbrantes para o Vulcão Osorno. É uma rua que combina tranquilidade residencial com a vibração turística da cidade. É também uma via de pedestres que dá acesso à Calle Klenner, onde está o Parque Estación Puerto Varas.

A Pasaje Ricke começa com uma escadaria, que tem à sua esquerda o belo edifício da Taberna Nosé (acima). A escadaria é recoberta por um mosaico de autoria coletiva criado em 2013, por iniciativa Fundación Carnaval del Sur em 2013, como parte de um projeto artístico e patrimonial para a cidade. Desde então, a escadaria se tornou um símbolo cultural, com mosaicos que representam a biodiversidade e a identidade do sul do Chile. Em 2021, após danos causados por obras de emergência da empresa Essal, responsável pelos serviços de água e esgoto de Puerto Varas, foi firmado um acordo entre a municipalidade, a fundação e a empresa para reconstruir e restaurar os mosaicos. A reposição foi concluída e reinaugurada em janeiro de 2023, com participação da comunidade local, incluindo estudantes e artistas.
PARQUE ESTACIÓN PUERTO VARAS
O Parque Estación Puerto Varas é um vibrante espaço urbano localizado na parte alta do coração da cidade. Criado sobre os terrenos da antiga estação ferroviária, o parque surgiu como resposta à escassez de áreas públicas em meio à rápida expansão urbana. Desde sua fundação, liderada pela Fundación Parque Sur, o projeto tem promovido a recuperação do patrimônio histórico, a ampliação de áreas verdes e o fortalecimento da vida comunitária.
Atualmente, o Parque Estación é um ponto de encontro cultural e social, com atividades como feiras, cinema ao ar livre e eventos comunitários.

Além disso, ele representa um modelo de gestão participativa e sustentável, sendo considerado um motor de desenvolvimento urbano e cidadania ativa. Se você estiver a pé e decidir conhecer a Pasaje Ricke, a Estación Puerto Varas está no final dela. Caso você esteja de carro, o melhor trajeto é a Calle Estación, até encontrar a Calle Klenner, à direita.
Obviamente, há muito mais para ver em Puerto Varas e arredores. Isso sem falar na maravilhosa culinária e na variedade de vinhos. Nas duas vezes em que estive lá, saí com a sensação de que teria valido a pena ficar mais alguns dias. Mas isso talvez seja mais um incentivo que um lamento.






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