Começo dizendo que gosto de museus e que tenho um número considerável deles no meu currículo – desde o modestíssimo Museu de Arte Sacra de Angra dos Reis, cidade onde moro, até o monumental e fascinante Musée du Louvre.
Seria puro esnobismo da minha parte listar aqui todos os museus que tive o privilégio de visitar. Exatamente por isso, falar sobre um museu específico – neste caso, o Museo de Pontevedra – pode parecer algo estranho. No entanto, confesso que fiquei absolutamente encantado com esse museu, que além de possuir um cervo de primeiríssima qualidade, é gratuito.
Criado em 1927, pela Deputación Provincial (governo da província, instituição político-administrativa semelhante ao nosso governo estadual), esse museu foi o resultado do trabalho incansável da Sociedad Arqueológica de Pontevedra, instituição criada em 1894, da qual herdou uma extraordinária coleção de obras de arte, peças arqueológicas, documentos, livros e fotografias, com sua extinção, em 1937, com o falecimento do seu criador, o folclorista e arqueólogo Casto Sampedro y Folgar.
Atualmente, o museu está instalado num conjunto de cinco edifícios, além das Ruínas de San Domingos (Gran Vía Montero Ríos, 1, esquina com Rúa Marqués de Riestra), às quais já me referi aqui; o Edificio Castro Monteagudo (Rúa Pasantería, 2-12), o Edificio García Flórez (Rúa Pasantería, esquina com Sarmiento), o Edificio Fernández López (Rúa Pasantería, 2-10), o Edificio Sarmiento (Rúa Sarmiento, 51) e o Sexto Edificio (Rúa Padre Amoedo Carballo, em frente à Rúa Cruz Vermella), renomeado, no começo de 2021, como Edificio Castelao. Destes, o Sexto Edifício (na foto acima) é o que mais chama atenção. Trata-se de uma construção moderna, sobre o terreno onde antes existia a horta da Companhia de Jesus, detrás da Igrexa Parroquial de San Bartolomeu e do Edifício Sarmiento, com o qual ele se comunica.
O Edificio Sarmiento (abaixo), construído entre 1685 e 1714, foi originalmente a sede do Colégio da Companhia de Jesus, tendo sido incorporado ao patrimônio do museu em 1981. Atualmente, recém-restaurado, exibe em suas salas de exposição permanente e no próprio claustro, fundos arqueológicos da Pré-História, da Antiguidade, da arte galega medieval até o século XIII, as coleções das famosas cerâmicas de Sargadelos, de Pontecesures e uma seleção dos ceramistas galegos mais significativos: Manises, Paterna, Sevilla, Toledo e Talavera, así como o legado Sánchez Mesas - Fernández de Tejada de arte contemporânea e asiático-oriental.
Passagem entre o Edificio Castelao (à direita) e o Edificio Sarmiento
Voltando ao Sexto Edificio, trata-se de uma construção recente, iniciada em 2004 e inaugurada em 2013, com o objetivo de ampliar o espaço do museu, que cresceu em 10 mil m², dedicado a salas de exposições permanentes e temporárias, oficinas de restauração, auditório com capacidade para duzentas e quarenta pessoas e cafeteria. Em suas vinte e três salas de exposição permanente o visitante acompanha a evolução da arte galega desde o gótico até a atualidade, assim como as manifestações artísticas realizadas em outros pontos da Espanha desde os tempos de Goya até meados do século XX.
Apenas pra estimular a sua curiosidade, deixo um mínimo tira-gosto do magnífico acervo do Museo de Pontevedra que pude fotografar com minha modesta câmera Sony CyberShot DSC-HX400V.
A familia do pintor, óleo sobre tela de Rafael Alonso Fernández, 1979
Dolorosa, madeira policromada. Galícia, segundo terço do séc. XVIII - detalhe
Retábulo da Quinta Angústia, granito. Igrexa de San Bartolomeu 'o vello', c. 1480
Salão de arte espanhola do séc. XIX - detalhe
Vendedor ambulante em Buenos Aires, óleo sobre tela de Leopoldo Nóvoa García, 1952
Cópia do Cristo de Velázquez, óleo sobre tela de Gregorio Ferro Requeixo, cerca de 1775
Além do riquíssimo e impecável acervo, do ambiente agradabilíssimo e o clima acolhedor de todo o pessoal do museu fez com que o Museo de Pontevedra passasse a figurar entre os principais museus que já tive o privilégio de visitar. Somando-se ao fato de que se trata de uma instituição localizada em uma cidade que não fica entre as mais badaladas do circuito turístico espanhol – e, volto a lembrar, de oferecer acesso gratuito aos visitantes –, o Museo de Pontevedra foi, sem dúvida, uma das mais gratas surpresas na minha bagagem de viajante. Provavelmente, não fosse aquele chuvoso 19 de janeiro eu não teria nem passado por perto dele. Viva o acaso! Viva a arte de fazer limonada de um limão. E que limonada saborosa!
O Museo de Pontevedra funciona de terça a sábado, das 12 às 21h, e aos domingos, das 11 às 14h. Fecha às segundas-feiras e nos dias 24, 25 e 31 de dezembro e 1º e 6 de janeiro. Como eu disse antes, a entrada é gratuita. O endereço é Rúa da Pasantería, 2-12. O endereço eletrônico (em galego) é www.museo.depo.es - Museo de Pontevedra.
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