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  • Foto do escritorAlberto Moby Ribeiro da Silva

LAGOS ANDINOS III: BARILOCHE

Atualizado: 6 de jul. de 2023

San Carlos de Bariloche era o lugar central da região que minha memória afetiva identificava como o lugar mais bonito que eu já tinha conhecido – ainda que essa impressão me remetesse uma viagem de vinte anos atrás, como disse aqui. Mas tanto o trajeto, de cerca de cinco horas de ônibus, quanto a cidade, tendo como bônus, quase na chegada, a belíssima Villa La Angostura, confirmaram na viagem de 2016 que o meu encantamento de duas décadas atrás não era nenhuma peça que a memória tinha pregado. Esse encantamento, aliás, também arrebatou o coração da minha mulher, Márcia, nessa viagem que para ela era a primeira. Tanto que mal chegamos de volta e ela já começou a fazer planos. No ano seguinte, com um roteiro ligeiramente modificado, estávamos nós de volta à região dos Lagos Andinos, com uma parada mais longa novamente em Bariloche.

As ondas agitadas do Lago Nahuel Huapi


Bariloche não é uma beleza fácil de descrever. A arquitetura da cidade e a neve nos picos mais altos lembram muito a Europa, particularmente a das paisagens suíças, alemãs, austríacas. Mas, ao mesmo tempo, a imensidão do Lago Nahuel Huapi – com ondas, devido ao vento forte que sopra – pode às vezes dar a impressão que a cidade é banhada por praias oceânicas. A vegetação exuberante, com vários tons de verde, o s bosques de árvores centenárias nos aproximam da natureza selvagem e qu ase intocada. Esse mosaico é coroado pela rica e variada gastronomia patagônica, além das fábricas de chocolate e das cervejarias artesanais.

E aqui é preciso dizer que nunca fui a Bariloche quando a cidade fica por vários dias toda coberta de neve e se transforma num dos mais importantes destinos para esqui e demais esportes de inverno. Nunca vivi - para o bem ou para o mal - a experiência de ver a cidade toda coberta de neve e, ao mesmo tempo, transbordando de turistas de toda parte, entre os quais milhares de brasileiros. O inverno em Bariloche, como o brasileiro, é o do Hemisfério Sul, entre junho e agosto e eu, por ser professor, faço sempre minhas viagens mais longas em janeiro, mês das férias escolares.

Centro Cívico, com destaque para torre da Municipalidad (Prefeitura)


... e no inverno de 2020. Foto: site Brasil Travel News


Seria muito difícil – ou injusto – fazer uma relação das belezas de Bariloche. Destaco aqui passeios dos quais temos as fotos mais bonitas, começando por dois que são relativamente próximos do centro da cidade, os dois na mesma rota, a Av. Exequiel Bustillo, no sentido noroeste.


CERRO CAMPANARIO E LLAO LLAO

O primeiro é o Cerro Campanario, a cerca de 17,5 km do centro de Bariloche, com 1.049 metros de altura, cujo topo é possível alcançar através de um teleférico, chamado lá de aerosilla. De lá é possível contemplar uma parte significativa do Lago e a impressionante vegetação do Parque Nacional Nahuel Huapi, além do belíssimo Llao Llao Hotel Resort, Golf & Spa, dos cerros Otto e Catedral. Além disso, no Cerro Campanário existe um jardim botânico com diversas espécies de plantas que pode ser visitado na primavera e no verão. Para descer, dá para pegar mais uma vez o teleférico ou fazer a trilha no meio dos bosques, o que dá uns 30 minutos de caminhada.


O segundo é a Villa Llao Llao (pronuncia-se Xao Xao), 7,5 km depois, uma pequena comunidade tipicamente turística espremida entre o imenso Lago Nahuel Huapi e o Lago Perito Moreno. Além da paisagem estonteante, Llao Llao se destaca pelo Porto Pañuelo, de onde saem praticamente todas as excursões lacustres – inclusive a travessia, feita na maior parte do tempo de barco, mas que utiliza também micro-ônibus e vans, conhecida como Cruce Andino, que sai de Bariloche e vai até Puerto Varas, no Chile, e vice-versa. Outro destaque é o Llao Llao Hotel Resort, Golf & Spa, categoria 5 estrelas, que vale a visita, mesmo que você não queira (ou não possa) se hospedar nele.

Estacionamento do Llao Llao Hotel Resort, Golf & Spa


Enseada no Lago Nahuel Huapi em frente ao Puerto Pañuelo



ISLA VICTORIA E BOSQUE DE ARRAYANES

Imperdível também é o passeio de catamarã à Isla Victoria e ao Bosque de Arrayanes. O preço é um pouco salgado, mas vale cada centavo. Veja aqui. A Isla Victoria e o Bosque Arrayanes são dois pontos turísticos muito especiais em Bariloche. A beleza das águas cristalinas do Lago Nahuel Huapi emoldurado pelas montanhas, do bosque de arraynes (nome científico: luma apiculata; quetrihué, no idioma mapuche), árvore típica dessa região, e da encantadora Isla Victoria são de encher os olhos. A árvore de arrayán é conhecida por seus únicos ramos torcidos, troncos estreitos com manchas brancas irregulares e casca cor de canela que descasca quando a árvore cresce.


Na verdade, o Bosque de Arrayanes pertence à Península de Quetrihué, que pertence à vizinha Villa La Angostura, sobre a qual falo em outra oportunidade. O bosque, por sua vez, é parte Parque Nacional Los Arrayanes, que cobre mais de 1.600ha ao longo da Península Quetrihué. É um local perfeito para caminhadas e observação da vida selvagem. Os visitantes podem explorar o Bosque de Arrayanes ao longo de uma trilha de 12km, que vai da Bahia Quintupuray no início da Península Quetrihué, até o porto, no extremo sul. Caminhadas ou andar de bicicleta ao longo da trilha proporciona uma vista deslumbrante da floresta, passando pelo Lago La Patagua e por uma série de pontos de vista. Para os visitantes que desembarcam no porto sulista, um loop de meia milha (800 metros) permite que os excursionistas aproveitem o cenário em uma caminhada de 30 minutos.


Na Ilha Victoria, além das trilhas desse paraíso milenar, é possível observar pinturas rupestres feitas pelos seus primeiros habitantes próximo à Playa del Toro, uma esplêndida praia de areia vulcânica.


CENTRO DA CIDADE

O centro de Bariloche está a poucos metros dos pontos de ônibus e comércio em geral. Na rua principal, Calle Mitre, estão as lojas de chocolate e de artesanato, bares, restaurantes, livrarias, casas de música, galerias, agências de turismo etc. É a região ideal para quem não quer depender de táxis ou remis para fazer as coisas do dia a dia.


Os táxis em Bariloche funcionam com taxímetro, como no Brasil. Já os remis são uma espécie de táxi que funciona com preços fixos e tabelados. Os táxis costumam ficar parados nas ruas principais da cidade, enquanto os remis funcionam através de cooperativas e são chamados por hotéis e restaurantes. Ainda que os remis tenham preços tabelados, você pode tentar negociar com o motorista o valor da corrida. Geralmente, táxis e remis têm preços razoáveis. Bariloche não tem serviço de transporte por aplicativo.


Sobre as hospedagens, também é no centro que você também encontrará as opções mais econômicas. Há muitos hostels e hotéis pequenos com ótimo custo x benefício. Porém, fique de olho na acessibilidade e na conservação do prédio em que você vai ficar, já que muitas construções nesta área são bem antigas. Eu, particularmente, acho uma opção interessante pensar na possibilidade de compartilhar um espaço na casa de alguém ou mesmo uma habitação inteira pelo sistema Airbnb.


No centro, o destaque vai para o Centro Cívico de Bariloche. Formado por um conjunto de prédios administrativos construídos ao redor de uma praça situada entre as ruas Mitre, Reconquista e Libertad, abriga a Prefeitura de San Carlos de Bariloche, a Secretaria Municipal de Turismo, a Biblioteca Popular Sarmiento, o Museu da Patagônia, a Central dos Correios, a Delegacia de Polícia da Província de Rio Negro e o Monumento a Julio Roca, ex-presidente argentino. Obra de Ernesto de Estrada em madeira de cipreste, pinheiro-larício e tufa de pedra extraída do monte Carbón, sua arquitetura, influenciada pelo estilo predominante nas regiões montanhosas e de bosques da Europa e EUA, e com a magnífica paisagem do lago Nahuel Huapi como cenário de fundo, o transformam em um passeio obrigatório tanto para os turistas como para os residentes da cidade. Construído em 1940, o Centro Cívico foi declarado Monumento Histórico Nacional em 1987. Em sua praça é comum acontecerem importantes eventos culturais e sociais.


Perto dali fica a Igreja Catedral. Projetada pelo arquiteto Alejandro Bustillo, ela foi concluída em 1947. Com seu estilo neogótico, grandes muros e enorme cúpula decorada, surpreende pela imponência e pelos vitrais incríveis. Através deles é possível observar diversas representações da Via Crucis, que mistura personagens bíblicos com figuras históricas da região, como frei Francisco Menéndez, o padre jesuíta Nicolás Mascardi, Ceferino Namuncurá, o padre Milanesio (primeiro cura de Bariloche) e até os construtores do templo: o arquiteto Bustillo, representado como São Rafael, e Miguel Ángel Cesario, retratado como São Miguel Arcanjo. A beleza dos vitrais contrasta com a sua narrativa ostensivamente colonialista e europeizante. Outro destaque é o belíssimo jardim que circunda a catedral e que tem como estrelas principais roseiras de todas as cores.

Encontro do general Conrado Villegas com o monsenhor José Fagnano,

em 28 de junho de 1881, quando foi lançada a pedra fundamental da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Patagones. Foto: Daniel Pavser


OUTRAS ATRAÇÕES

Além de sua beleza natural e dessas atrações, Bariloche tem várias outras atrações que tornariam este post já imenso e mais gigantesco ainda. Vou listar aqui apenas as mais conhecidas.


Cerro Otto – Bem perto do centro, essa montanha cujo topo está a 1.405m de altura, é uma das suas principais atrações de Bariloche. Sua maior referência é a confeitaria giratória, onde é possível chegar subindo por um teleférico fechado. Além da incrível confeitaria giratória, podemos desfrutar a montanha ao ar livre durante todo o ano para curtir a paisagem e realizar caminhadas e, no inverno, praticar atividades de neve. Além disso, o ingresso ao Cerro Otto inclui transporte do centro da cidade até a estação do teleférico.


Cerro Catedral – Uma das primeiras estações de esqui a se instalar na América Latina, essa montanha de 2.405m é onde aparece a primeira neve de inverno. A estação conta com cerca de 50 pistas de diversos níveis de dificuldade. Destas, apenas 4 caminhos e 6 pistas próximas à base são para iniciantes (em épocas de pouca neve, essas pistas podem ser prejudicadas). O Cerro também possui 40 diferentes meios de elevação abertos e fechados, tanto para esquiadores quanto para pedestres.


Cerro Tronador – O Cerro Tronador é a montanha mais alta da região de Bariloche, com 3.491m, exatamente na divisa entre Chile e Argentina. Na verdade, é vulcão inativo que está a 80km do centro de Bariloche, que tem três picos, sendo que um é argentino, outro é chileno e um terceiro é neutro. É preciso contratar o passeio, que é feito de van pela Ruta 40 – a mais extensa da Argentina, da qual já falei aqui –, e dura um dia inteiro. O passeio, que contorna parte dos Lagos Gutierrez e Masardi, também permite apreciar os Cerros Otto e Catedral de outro ponto de vista. Ao chegar ao parque onde está essa montanha, você paga uma tarifa na entrada e logo em frente encontra uma bifurcação: um caminho vai para o Tronador; outro, para a Cascata Los Alerces.


Bate-volta a Villa La Angostura – Essa encantadora cidadezinha fica a cerca de 83km de Bariloche, de onde saem ônibus para lá a toda hora. Mas dela eu falo em outro post.


Flores - Bariloche é uma cidade florida, ornada tanto de flores selvagens quanto de jardins bem cuidados. Suas flores são uma atração à parte.


AMIGOS

Bariloche é uma fábrica de amigos. Quando, pela primeira vez, lá no longínquo 1995, eu e minha companheira de então fomos acolhidos por Marina, Óscar e sua família, experimentei pela primeira vez essa hospitalidade. Já contei um pouco dessa história antes.


Na viagem de 2016 pude ver que o carinho e a hospitalidade que experimentei em 1995 não era ocasional. Dessa vez, o encantamento de Bariloche teve um componente a mais na acolhida de Cris e Max, nossos anfitriões na aconchegante LLI Guest House no bairro Casa de Piedra. Apesar de ficar a 16 km do centro da cidade, a disponibilidade e simpatia de Max e Cris – além do fato não menos importante de que Max é um competentíssimo chef de cozinha, sempre disposto a nos agradar com suas invenções gastronômicas – e a paisagem deslumbrante que nos cercava fizeram valer cada minuto que passamos esperando o ônibus de linha que nos levasse à cidade ou as caminhadas de carca de 15 minutos por ruas labirínticas que fizemos da casa até a Av. Exequiel Bustillo. Parte significativa da minha confirmação de que Bariloche era realmente o lugar mais bonito que eu já vira tem a ver com eles.

Max, eu, Márcia e Cris na LLI Guest House


Márcia em frente à LLI Guest House


Em 2017, por causa da distância do centro da cidade optamos por não ficar na LLI Guest House e escolhemos o Alojamiento Masi, no bairro Jardín Botánico, a poucos minutos a pé do centro. Novamente, tivemos a sorte de ser acolhidos pelo casal Daniele e Luz, que tinham de bônus o então bebezinho Bautista e Caterina, mãe de Daniele, que veio de Roma, terra de Daniele, para acompanhar a gestação de Luz e ajudar no cuidado dos primeiros meses de Bauti. Além da simpatia, amabilidade e presteza dessa família, a casa era um sonho: bonita, ampla, bem decorada e alegre. Assim como tinha acontecido no ano anterior com Max e Cris, nos tornamos amigos de Daniele e Luz – o que fez nosso amor por Bariloche passasse a um estágio ainda mais avançado, quase familiar.

O acolhedor Alojamiento Masi


Alguns anos se passaram desde nossa última viagem a Bariloche. Como tudo, algumas coisas mudaram por lá e me pareceu importante aqui dar conta de como vão nossos

anfitriões hoje. Cris e Max continuam juntos, mas a deliciosa LLI Guest House deixou de funcionar para atualmente abrigar os pais de Cris. O casal, por sua vez, agora vive num sítio onde têm uma plantação de lavandas, em Villa Llanquín, cerca de 40km a NE de Bariloche.

Lá eles produzem e comercializam os mais diversos derivados dessa flor incrível. Além disso, eles também recebem grupos de turistas interessados em conhecer o trabalho com as lavandas, desde o plantio até a comercialização, e mantêm uma casa de chá, onde também vendem plantas. Se quiser conhecê-los, eles estão no Instagram. É só clicar no logo ao lado.

Sítio Lavandas del Limay, na Villa Llanquín


Cris processando as lavandas


... e Max na casa de chá


Quanto a Daniele e Luz, os proprietários do Alojamiento Masi, nosso ponto de apoio em 2017, o relacionamento do casal terminou de forma não amigável e Luz voltou a morar com os pais, em Buenos Aires, levando Bautista com ela. A casa não está mais disponível pelo Airbnb. O lado bom é que Bautista cresceu é agora é um menino bonito e esperto, seguramente orgulhoso da seleção argentina de futebol, campeã da 22ª Copa do Mundo de Futebol, e fã de Lionel Messi, eleito o melhor jogador da copa e também o melhor do mundo de 2022.



Bautista, em 2017, em Bariloche


... e em 2023, em Buenos Aires, cheio de atitude


Fui três vezes a Bariloche: a primeira, em 1995, a segunda, em 2016 e a terceira, no ano seguinte, 2017. Em cada uma das viagens minha impressão de que essa pequena cidade é o centro da região mais bonita que eu já pude conhecer (os Lagos Andinos) só se confirmava. Obviamente, não sou um dos maiores viajantes do mundo, mas tenho um histórico significativo de viagens pelo Brasil, parte da América Latina, parte da Europa e Marrocos, na África. E minha primeira impressão continua se confirmando.

Como disse antes, nunca fui a Bariloche no inverno e, portanto, nunca vi a cidade toda coberta de neve. Mas posso garantir que, seja qual for seu sentimento em relação às paisagens nevadas (que eu adoro), Bariloche no verão é uma explosão de cores, aromas, de beleza incomparável. Vá e veja.




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4 comentarios


Bruno dos Anjos
Bruno dos Anjos
08 jun 2023

Que blog lindo❤️. Ainda não conheço Bariloche, mas vou levar cada detalhe dessa publicação na lembrança quando tiver a oportunidade de visitar. Amei as fotos e todos os detalhes da viagem.

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Alberto Moby Ribeiro da Silva
Alberto Moby Ribeiro da Silva
08 jun 2023
Contestando a

Muito obrigado, Bruno! Divulgue para os seus amigos, por favor.

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elviomdespinto
08 jun 2023

Esse cara, meu amigo!, é uma das minhas referências. Em Angra dos Reis é o nosso decano, menos pela idade, mas pela visão de mundo e coerência.

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Alberto Moby Ribeiro da Silva
Alberto Moby Ribeiro da Silva
08 jun 2023
Contestando a

Obrigado pela generosidade, meu amigo!

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